O ciúme é considerado por teóricos da psicologia, entre eles Freud, um sentimento de caráter universal na vida emocional das crianças. “No santo reino do lar, o bebê sempre se sente como uma majestade. É paparico dos pais de um lado e carinho dos avós e amigos do outro. De repente, tudo começa a ruir com a chegada de um intruso não convidado para a festa: um irmãozinho. Dessa forma, o ciúme se torna um processo natural. É o mecanismo de defesa”, afirma a psicóloga Marisa Ferreira. E por mais que os pais expliquem e usem e abusem do diálogo, não tem jeito. Para a criança, o irmão é um concorrente direto na atenção, antes exclusiva por parte de todos. “Não há como negar. Não existe uma igualdade no relacionamento dos pais entre os irmãos. E, no início, essa diferença no tratamento machuca mais, o mais velho se sente inferiorizado com o tamanho cuidado em relação ao bebê. Isto pode acompanhá-lo até mesmo na fase adulta”, completa Marisa.
No entanto, cabe aos pais procurar evitar ao máximo que o sentimento desenvolvido na infância comprometa o futuro, já que o ciúme gera grandes problemas na vida profissional e pessoal, além de formar uma base de comportamento a ser seguida em todas as relações. O ciumento tem dificuldades em dividir espaço seja no trabalho ou em um relacionamento amoroso. Tudo acaba se tornando uma competição de igual proporção à vivida dentro de casa com o irmão em busca do amor do pai e da mãe. A melhor saída ainda é conversar, mesmo que seja só para demonstrar que a importância da criança não diminui com a chegada de um bebê.
Porém, se dialogar não surte o efeito esperado, é melhor procurar um profissional especializado no assunto. Com a chegada do irmão adotado, o comportamento de Maria Antônia, de três anos e meio, mudou completa-mente. “Ela agora é respondona e mandona. Tento conversar e mostrar que o amor que sinto é o mesmo, mas não adianta. Maria não se conforma com a presença do bebê e faz de tudo para chamar a atenção. Já brigou com coleguinhas na escola, atirou objetos para fora de casa quebrando o carro do vizinho e até mesmo andou pelo lado de fora da janela. Fiquei bastante assustada, tanto que tomei a decisão de levá-la a um psicólogo”, conta a médica Adriana Parodi.
Se com a diferença de idade é difícil para os pais controlar o ciúme entre seus filhos, a situação piora ainda mais quando eles são gêmeos e de sexo oposto. Exatamente esta experiência viveu a arquiteta Gabriela Camargo, que diz nunca ter tido direitos iguais dentro da própria casa. “Sei que o ciúme entre irmãos é algo normal, mas para mim foi muito difícil o período da infância e da adolescência. Por ter a mesma idade, achava que o carinho e atenção de nossos pais deveria ser igual. E, na prática, isso nunca aconteceu”, conta. Mesmo sendo muito mais estudiosa que Eduardo, era o irmão quem ficava cheio de privilégios. “Tinha ar-condicionado e som no quarto. A minha paciência chegou ao limite quando ele ganhou um carro só porque terminou um namoro. Comecei então a discutir o que sentia com meus pais e expor todos meus pensamentos”, lembra Gabriela, confessando que a experiência foi um grande aprendizado para constituir sua própria família.
Aprender a lidar com o ciúme, seja de que tipo ele for, é fundamental para viver em sociedade. “Os pais oferecem aos filhos carinho e afeto mas, para que eles cresçam, são necessários também certos limites, mesmo que isso os desagrade muito. Assim é com os irmãos. Se por um lado a convivência mútua propicia experiências e momentos de intensa rivalidade, competição e agressão, que servem para prepará-los para as dificuldades do mundo que os cerca, por outro nada substitui a incrível experiência de compartilharem as brincadeiras e outros momentos de prazer, e de poderem desenvolver atitudes de cooperação, generosidade e solidariedade”, finaliza a terapeuta familiar Mônica Mlynarz.
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