A disparada do dólar neutralizou os reajustes de combustíveis realizados pela Petrobras neste ano, à medida em que as importações ficam mais caras, o que pode colaborar para aumentar os problemas da área de abastecimento da estatal, segundo especialistas. A defasagem atual entre preços domésticos de combustíveis e os internacionais está maior em relação à verificada imediatamente após o último aumento do diesel, informou o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie) nesta sexta-feira.
Apesar da queda recente dos preços de petróleo e derivados no mercado internacional, gasolina e diesel estão 20% e 16,6% mais baratos nas refinarias do Brasil em relação aos valores praticados no mercado norte-americano, calculou o Cbie. Logo após o último reajuste, no começo de março, a diferença entre o valor da gasolina e do diesel - entre o Brasil e os EUA - era de 16,5% e 14%, respectivamente, segundo a mesma consultoria.
O diesel foi reajustado duas vezes este ano - com altas de 6,6% em janeiro e 5% em março-, enquanto a gasolina teve uma alta de 5,4% janeiro. "Os reajustes já foram anulados pela alta do dólar", afirmou o sócio-diretor do Cbie, Adriano Pires. A cotação do dólar ante o real subiu 4,7% em junho e acumula alta de cerca de 10% no segundo trimestre.
No primeiro trimestre do ano, o prejuízo na área de abastecimento havia caído 7% na comparação com o mesmo período do ano passado, com os reajustes dos combustíveis dando colaboração importante para a redução das perdas, que ainda foram de mais de R$ 4 bilhões nos primeiros três meses de 2013. om a anulação do efeito positivo do reajuste, essa situação pode mudar nos próximos meses.
Nesta sexta-feira, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, comentou que os efeitos da alta do dólar poderão ser mais bem avaliados ao final do mês, mas mencionou que o câmbio teve uma variação "abrupta". "A Petrobras tem dívida em dólar. A indústria de petróleo é dolarizada. A Petrobras tem custos em dólar, então é preciso esperar o último dia útil de junho", declarou ela em um evento ao ser questionada sobre o impacto para os resultados da empresa.
Importações
O crescimento expressivo na demanda por derivados no País, levando a estatal a uma queda expressiva das exportações e a um aumento igualmente acelerado das importações neste ano, também é fator a ser considerado. "A Petrobras, claro, não gostou nada disso (aumento do dólar); ela ganha um pouco mais na exportação e perde um poucão na importação", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Exportadores (AEB), José Augusto de Castro.
De acordo com a AEB, a exportação da Petrobras, de janeiro até maio de 2013, somou US$ 4,943 bilhões, contra US$ 10,118 bilhões no mesmo período de 2012. Já suas importações Petrobras no mesmo período somaram US$ 18,247 bilhões, contra US$ 14,262 bilhões no mesmo período de 2012.
Apesar do impacto negativo do câmbio sobre as importações, seus efeitos também são limitados porque as vendas de gasolina e diesel, em reais, representam 40% do total da receita da petroleira, ponderou o analista Marcus Sequeira, do Deutsche Bank, em relatório ao mercado. Com a maior parte da receita em dólar, a Petrobras, que também é importante exportadora, beneficia-se um pouco com a alta da moeda americana.
Entretanto, a Petrobras provavelmente sentirá outros efeitos da recente desvalorização real, uma vez que tem dívida e custos em dólar. Em evento no início de junho, a presidente da estatal afirmou que o câmbio "como está não é bom para a Petrobras", citando a questão da dívida e os custos. Cerca de três quartos da dívida da Petrobras estão em moeda estrangeira, com a maior parte sendo atrelada ao dólar.
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