Os partidos e os políticos, por sua ineficiência, parecem ser os grandes perdedores do momento. São repudiados quando, oportunistas, tentam aderir às manifestações populares geradas justamente pelo inconformismo às suas atuações. Há casos, como o de São Paulo, onde foram obrigados a sair correndo para não serem agredidos. A população manifestante cansou de por eles esperar e resolveu encaminhar por si as suas reivindicações. Já ganhou a primeira queda de braços, com a revogação do aumento nas passagens de ônibus, mas, vencida a batalha, declarou que há muito mais a conquistar, prosseguindo na luta com o mesmo vigor. Como se trata de um movimento com muitas bandeiras e sem liderança explícita, há que se precaver com a infiltração dos vândalos e da turma do “quanto pior, melhor”, que podem, por moto próprio ou a soldo de alguém, tentar desclassificar, dividir e combalir a força popular.
Os governantes e lideranças precisam ter muito juízo e discernimento para separar o que é reivindicação e o que é baderna, dispondo-se a discutir e resolver a primeira e combater de forma inflexível a segunda. Há que se adotar já (mas já mesmo!), medidas claras e urgentes. A Câmara, por exemplo, deveria cassar imediatamente seus condenados do “mensalão” (ou, com a devida clareza, justificar o porque não os cassa), e o Poder Judiciário executar as penas a que já foram condenados. Isso, que já é matéria decidida. Assim, se responderá a um dos principais clamores das ruas, demonstrando pelos poderes constituídos o começo concreto do combate à corrupção, no raciocínio dos manifestantes, fará sobrar nos cofres públicos o dinheiro necessário para a Saúde, a Educação, o Emprego, a Segurança e outros serviços de primeira necessidade ao povo. Os errantes, independente de sua identidade ou classe política, econômica ou social, têm de ser exemplarmente punidos em nome e em benefício do povo.
É uma tarefa de grande porte e urgência urgentíssima, cujos efeitos têm de começar a ser sentidos de imediato para que o povo, ora mobilizado, satisfeito possa se acalmar e voltar a ter um pouco de confiança nos governos, nas autoridades e nas instituições. É preciso dar respostas ao clamor das ruas, antes que ele, por falta de eco, possa transformar-se em furor. Há de se aproveitar a disposição da manifestação pacífica, ainda presente no semblante popular. Mas o tempo é curto. O povo, a quem foi vendida a idéia de solução de todos os problemas através da simples instalação da democracia, hoje descrê de seus representantes. É preciso recuperar a credibilidade através de atitudes que superem a má imagem criada pelas composições partidárias, luta pelo poder, corrupções diversas, impunidade e outros males que afligem a todos os brasileiros.
Temos de entender que a “primavera brasileira” está nas ruas com o objetivo de remover os malfeitos da vida político-administrativa nacional e conquistar os direitos de que a população há muito reclamava sem agir. A democracia que todos sonhamos não é isso que hoje existe. Para consolidá-la ainda faltam o cumprimento das obrigações pelo Estado, a rigorosa aplicação das leis e, principalmente, a geração de leis e normas que resolvam os problemas da população. É a ação nesse sentido que o povo hoje está cobrando nas ruas. Sem essas providências será muito difícil voltar à normalidade e a crise será certa, tanto pelo colapso nas atividades econômicas quanto pela exaustão da paciência dos reivindicantes. O Brasil, de Norte a Sul, exige mudanças já...
* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) aspomilpm@terra.com.br
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