As complexidades por trás de um assassinato tornam a morte em si apenas um detalhe. É esse o ponto de partida de O Canto da Sereia, microssérie de quatro episódios da TV Globo. Baseada no livro homônimo do jornalista Nelson Motta e ambientada em uma Salvador contemporânea, a produção desvenda os segredos e mentiras que surgem a partir da morte de Sereia (Isis Valverde).
Musa da axé music, a cantora foi assassinada enquanto agitava a multidão em cima de um trio elétrico em pleno Carnaval baiano. "A história é contada toda em flashback. O público acompanhará o caminho da cantora até o sucesso, assim como identificará as ambiguidades de Sereia e dos personagens próximos a ela", contou George Moura, que assina a adaptação do texto para a tevê ao lado de Patrícia Andrade e Sergio Goldenberg.
Com direção de núcleo de Ricardo Waddington e direção geral de José Luiz Villamarim, a microssérie começou a ser idealizada em 2010 e foi produzida em duas etapas, ao longo de 2012. Primeiro, com gravações de planos sequência durante o último Carnaval de Salvador. E depois, entre os meses de outubro e novembro, com a participação de todo o elenco, formado por atores estreantes locais e por nomes como Camila Morgado, Fabiula Nascimento e Marcos Caruso.
"Era preciso captar todo o clima do Carnaval baiano. Mas foram dias difíceis, debaixo de sol e na dependência de uma multidão animada que não podia ver uma câmara", relembra José Luiz Villamarim que, do ponto de vista técnico, elege a cena da morte de Sereia como a mais complexa. "Misturamos cenas reais do Carnaval com imagens feitas posteriormente. O maior desafio foi juntar tudo isso e ainda deixar a sequência verdadeira e forte", explicou.
Filmada em película e com direção de fotografia do renomado Walter Carvalho, O Canto da Sereia não limita seu diálogo com o cinema apenas no formato. A engenhosa história criada por Nelson Motta tem uma ligação muito próxima ao estilo noir, surgido na França, mas difundido nos filmes de Hollywood dos anos 1940, onde um crime com vários suspeitos em potencial é desvendado por um investigador. Esse tipo de narrativa foi utilizado em clássicos como Alma em Suplício (1945) e Os Assassinos (1946).
No caso da microssérie, o investigador é Augustão (Marcos Palmeira), um ex-policial que trabalhava como segurança particular de Sereia. "Aos poucos, meu personagem vai descobrindo os podres que estavam por trás do sucesso dela. Por ser segurança de Sereia, sente-se culpado pela morte e quer saber o que realmente aconteceu", descreveu Palmeira.
No meio de toda ação, está Isis Valverde, que, sem qualquer experiência na arte de cantar, passou por muitas aulas de canto, com o objetivo de parecer convincente na pele de uma rainha do axé. "Foi muito estranho me ouvir cantar. Subir no trio e comandar o público foi um momento único e importante para mim como atriz. Não sou cantora e nem tenho pretensão de ser", divertiu-se a protagonista.
Acostumada a personagens de sensualidade exacerbada, Isis enxerga em Sereia, cantora de personalidade forte e sexualidade indefinida, uma oportunidade de diversificar uma carreira marcada por "periguetes" sem muitas nuances. Entre as cenas mais ousadas, estão os tórridos beijos entre a cantora e o produtor musical Paulinho (Gabriel Braga Nunes) e as sequências carregadas de erotismo entre Sereia e sua empresária, Mara (Camila Morgado). "Sereia é linda e muito sexual. Por onde ela passa, as pessoas ficam seduzidas. Ela mexe com todo mundo e isso ajuda a criar um mito", analisou Camila.
Por serem mais próximos e apaixonados pela cantora, Paulinho e Mara são tidos como os principais suspeitos do assassinato. Nessa mistura de sentimentos, no entanto, ainda sobram dúvidas sobre a conduta do empresário Tuta (Marcelo Médici) e do afetado Só Love (João Miguel). Enquanto Tuta ficou encantado com a cantora desde o momento em que passou a investir na carreira dela, Só Love é o típico fã sem noção que, por trabalhar como secretário de Sereia, consegue ficar próximo de sua musa. "Essa ausência do maniqueísmo deixa tudo mais vago e surpreendente. Qualquer um pode ser o assassino. O legal nesse caso é chegar até as motivações", disse João.