Bebê e mais sete pessoas são mortas em São Bernardo e região metropolitana
Da Redação com Abr
Foto(s): Divulgação / Arquivo
Seu José era uma das poucas pessoas em condições de falar enquanto o corpo de Pedrinho era velado
Um bebê e mais sete pessoas foram mortas na noite de ontem (15) e na madrugada de hoje (16) na Grande São Paulo, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Além dos homicídios, um ônibus foi roubado e incendiado por seis pessoas.
Por volta das 22h20 de ontem (15), um menino, de 1 ano e oito meses, foi morto a tiros no colo da mãe, dentro do carro da família, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, conforme a secretaria. A família estava indo a um supermercado na Estrada Galvão Bueno, no Jardim Represa, quando o motorista de um Palio, cor prata, tentou fazer uma ultrapassagem e não conseguiu. Em seguida, o motorista emparelhou o carro da família e disparou ao menos três tiros. O menino morreu na hora. O padrasto da criança e a mãe não ficaram feridos. O enterro do menino ocorreu na tarde de hoje.
No bairro Rio Pequeno, na zona oeste da capital paulista, um homem de 52 anos foi baleado às 20h36. A vítima não resistiu aos ferimentos e morreu. Os suspeitos fugiram em uma moto. Em São Mateus, na zona leste, um homem foi encontrado morto na Avenida Riacho dos Machados por volta da meia-noite. De acordo com a família, ele tinha saído para ir a uma festa. O caso será investigado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa.
Na zona norte, no Jardim Santa Mônica, um motorista foi morto a tiros dentro de um salão de beleza às 19 horas. Segundo o boletim de ocorrência, o suspeito entrou no local e disparou contra a vítima, que morreu no Hospital de Pirituba.
Foi confirmada a morte de um servente, baleado depois de tentar assaltar a família de um policial civil no Parque São Jorge, na zona leste. Por volta das 20h30, o homem abordou a família do policial, que chegava em casa. O homem atirou, mas ninguém foi ferido. O policial reagiu e acertou o servente.
Em Guarulhos, um pedreiro morreu após ser alvejado com quatro tiros, por volta das 20 horas. Ele foi levado para o Hospital Geral de Guarulhos, mas não resistiu. A secretaria ainda confirmou a morte de um suposto assaltante no Campo Limpo, zona sul, baleado por policiais. Na região central, foi registrado crime de esfaqueamento.
Um ônibus foi roubado e incendiado por seis pessoas na Avenida Águia de Haia, na zona leste. Segundo a Polícia Militar, o grupo invadiu o coletivo e colocou fogo. Os passageiros conseguiram fugir.
Na última semana, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o governador Geraldo Alckmin firmaram cooperação para ações de combate à crescente onda de violência no estado. De acordo com o ministro, as primeiras ações integradas entre os governos estadual e federal devem começar na próxima segunda-feira (19).
Entre as medidas, está a contenção da violência nas fronteiras com fiscalização reforçada nos aeroportos, portos e rodovias, combate à venda e ao consumo de crack, que podem incluir monitoramento por vídeo e bases móveis comunitárias, possibilidade de transferência de presos responsáveis pelo assassinato de policiais e agentes penitenciários, criação de um centro de controle de comando integrado e implantação de um centro para cooperação das polícias científicas.
"Isso foi o que sobrou do meu neto", diz avô de bebê morto em São Bernardo
"Como que eu vou colocar 2 (anos) aqui? Não tem mais como colocar 2, acabou". Assim expressava a dor e a indignação por enterrar seu neto na tarde desta sexta, em Diadema, região do ABC Paulista, o motorista de van escolar José Patrocínio da Silva, 53 anos. Ele segurava o cartaz com o convite para o aniversário de um ano do pequeno Pedro Henrique. A data da festa: 29 de março de 2012. "Sobrou só isso dele... Vagabundo! Matou meu neto", repetia enquanto guardava o banner.
O cartaz acompanhou o corpo durante o trajeto entre o velório e o enterro. A imagem do menino no seu primeiro e único aniversário foi pendurada na van que carregou o caixão branco de menos de meio metro de comprimento até o jazigo no cemitério Vale da Paz. Pedrinho morreu ao ser atingido por um tiro no pescoço por volta das 22h de quinta-feira em São Bernardo do Campo, região do Grande ABC Paulista, com 1 ano e sete meses de idade.
Pai da cabeleireira Thamyres Silva Manga, 22 anos, seu José era uma das poucas pessoas em condições de falar enquanto o corpo era velado com cantos e gritos de louvor religioso de uma pequena multidão. Disse que o menino era "muito alegre e contente". "Falava tudo, já". Seu José manifestava diante de câmeras de TV a descrença nas leis e nas autoridades. "Gostaria que alguém agisse, mas nada vai acontecer. Era melhor tirar a polícia e dar uma arma para todo mundo".
O menino morreu nos braços da mãe, que estava no banco do carona de um Celta preto que trafegava na estrada Galvão Bueno em direção a um supermercado. Um Palio Prata dava sinal de luz logo atrás. No volante, o padrasto de Pedrinho, Jurandy Luis da Silva, 20 anos, não imaginava que tinha na traseira criminosos em fuga após uma tentativa de assassinato de um rapaz de 17 anos recém saído da Fundação Casa. Devagar, venceu a lombada da rua para não raspar a parte de baixo do veículo. O Palio prata ultrapassou na contramão e três tiros vararam o vidro e a lataria carro. Um deles pôs fim à vida de Pedrinho.
Thamyres caminhou as centenas de metros até o local onde o filho seria enterrado amparada por familiares. Debruçou-se sobre o caixão. Deu três toques na madeira. "A mamãe te ama, viu filho?", disse. Enquanto o caixão era acomodado com cordas na terra por coveiros, ela repetia, aos gritos, que não queria mais viver sem o filho. "Era a única coisa que eu tinha".
As investigações da Polícia Civil sobre o caso ainda não são conclusivas sobre a relação da morte com a onda de ataques que já matou mais de 270 pessoas desde o início de outubro na capital e região metropolitana de São Paulo. Mas a tia do menino cobrou providências. "Hoje foi meu sobrinho, amanhã pode ser o seu", disse Elivânia da Silva, enxugando lágrimas.
Onda de violência
Desde o início do ano, ao menos 92 policiais foram assassinados no Estado. Desse total, 18 eram aposentados e três estavam em serviço. Além disso, o Estado continua a enfrentar um grande índice de violência. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, só na capital houve um crescimento de 102,82% no número de pessoas vítimas de homicídio no mês de setembro, em comparação ao mesmo período do ano passado. Em todo o Estado, a alta foi de 26,71% no mesmo período.