O ministro Marco Aurélio Mello criticou nesta quarta-feira a postura que o relator da ação penal do mensalão, Joaquim Barbosa, tem adotado no julgamento que ocorre no Supremo Tribunal Federal (STF). Durante a sessão de hoje, Barbosa interrompeu por diversas vezes o voto do revisor, Ricardo Lewandowski, inclusive colocando em dúvida a imparcialidade do ministro.
"O relator parte de uma premissa de que, nesse colegiado, embora de nível muito elevado, todos têm que aderir, talvez cegamente, ao que é colocado por sua excelência. Isso é muito ruim", disse Marco Aurélio, após reunião administrativa realizada no Supremo.
Nesta quarta, Barbosa e Lewandowski discutiram em dois momentos. No primeiro, Barbosa criticou o revisor por não distribuir seu voto aos colegas durante a sessão. O relator ainda insinuou que Lewandowski não estaria sendo transparente, o que causou um desagravo por parte dos ministros Marco Aurélio e Celso de Mello.
A segunda discussão, mais áspera, ocorreu quando Lewandowski divergiu de Barbosa sobre a acusação de corrupção passiva imputada ao ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri. Barbosa se exaltou quando Lewandowski afirmou que tinha dúvidas sobre a participação de Palmieri no esquema de desvio de dinheiro. O relator, que vinha relevando os ataques de Barbosa para não cair em uma discussão mais acalorada, não conseguiu manter a fleuma habitual e questionou Barbosa se não seria o caso de sugerir a extinção do papel do revisor no processo.
"Mas eu acho que nós, como ministros do Supremo, não podemos fazer vista grossa a respeito do que consta nos autos", retrucou Barbosa, que praticamente mandou que Lewandowski distribuísse o voto por escrito aos outros ministros. "Vossa Excelência não dirá o que tenho que fazer. Eu cumprirei meu dever", respondeu o revisor. "Mas faça-o corretamente", rebateu Barbosa. A confusão só terminou com a intervenção do presidente da Corte, Carlos Ayres Britto.
"Em um colegiado é comum que cada qual forme seu convencimento sobre a matéria e exteriorize. A contrariedade a um voto não pode levar um integrante a retrucar o que colocado pelo igual. E retrucar de forma, a meu ver, ácida, como vocês foram testemunhas", resumiu o ministro Marco Aurélio.