Ataque-suicida por filme de Maomé mata ao menos 12 em Cabul
Da Redação com AFP
Foto(s): Reuters
A ação foi reivindicada pelo Hezb-i-Islami - o segundo principal grupo rebelde afegão depois dos Talibãs
Uma extremista islâmica suicida matou 12 pessoas nesta terça-feira ao detonar uma bomba em Cabul, em um ato que segundo os insurgentes afegãos foi uma vingança contra a divulgação de um filme de baixo orçamento produzido nos Estados Unidos que satiriza o profeta Maomé e que provocou uma onda de protestos no mundo muçulmano.
O grupo insurgente afegão Hezb-e-Islami reivindicou o atentado suicida, que alegou ser uma resposta ao filme anti-Islã. "A bomba foi detonada por uma mulher chamada Fátima. O atentado foi uma represália pelo insulto ao nosso profeta", declarou por telefone à AFP Zubair Sidiqi, porta-voz do Hezb-i-Islam, o segundo grupo insurgente mais importante do Afeganistão, depois dos Talibãs.
Pelo menos 12 pessoas, nove delas estrangeiras, morreram no atentado, executado contra um micro-ônibus em uma estrada que leva ao aeroporto de Cabul. De acordo com o governo da África do Sul, dos nove estrangeiros mortos no ataque, oito eram sul-africanos que trabalhavam para uma empresa de aviação privada.
"Às 06h45 locais uma extremista explodiu seu carro (ao lado do micro-ônibus) na estrada para o Aeroporto de Cabul, na altura do Distrito 15. Nove trabalhadores estrangeiros e três afegãos morreram, e dois policiais ficaram feridos", revelou a polícia da capital afegã.
"Os estrangeiros mortos trabalhavam para uma companhia privada de segurança" que opera no terminal aéreo, disse um oficial afegão. A ação foi reivindicada pelo Hezb-i-Islami para protestar contra o filme produzido nos Estados Unidos que mostra o profeta Maomé como assassino e homossexual.
A explosão ocorreu na ampla estrada que leva ao aeroporto, em um trecho margeado pelos chamados Palácios de Casamento, onde a população local celebra suas uniões religiosas.
O fotógrafo da AFP em Cabul viu os corpos mutilados de seis vítimas, algumas de cabelo louro, em torno de um micro-ônibus branco completamente calcinado. A Força da Otan no Afeganistão (Isaf) confirmou o ataque.
O atentado ocorre um dia após violentos protestos no Afeganistão contra A Inocência dos Muçulmanos, o filme satirizando o profeta Maomé que revoltou o Islã.
Em Jalalabad, mais de mil afegãos protestaram e queimaram carros da polícia na estrada que leva à cidade, ferindo levemente cerca de 50 policiais. Manifestantes também atiraram pedras em Camp Phoenix, a base militar dos Estados Unidos na região de Cabul.
O último ataque suicida em Cabul ocorreu em 8 de setembro passado, quando um adolescente explodiu uma carga que levava junto ao próprio corpo nos arredores do Quartel General da ISAF na capital afegã, deixando cinco mortos e seis feridos, incluindo várias crianças.
O atentado coincide com a decisão da Otan de restringir o número de suas operações conjuntas com as forças do Afeganistão, após a morte de dezenas de soldados nos últimos meses vítimas de policiais e soldados afegãos.
A maioria das patrulhas conjuntas e grupos de operação só serão realizados agora a partir de um determinado número de efetivos, e a cooperação com unidades menores deverá ser avaliada "caso a caso e aprovada pelos comandos regionais" da Otan, anunciou a Força Internacional para o Afeganistão (Isaf).
Filme anti-islamismo desencadeia protestos contra EUA
Na última terça-feira, 11 de setembro, protestos irromperam em frente às embaixadas americanas do Cairo, no Egito, e de Benghazi, na Líbia, motivados por um vídeo que zombava do islamismo e de Maomé, o profeta muçulmano. No primeiro caso, os manifestantes destroçaram a bandeira estadunidense; no segundo, os ataques chegaram ao interior da embaixada, durante os quais morreram, entre outros, o embaixador e representante de Washington, Cristopher Stevens.
Os protestos se disseminaram-se contra embaixadas americanas em diversos países da África e do Oriente Médio. Sexta, 14 de setembro, registrou o ápice da tensão, quando eventos foram registrados em Túnis (Tunísia), Cartum (Sudão), Jerusalém (Israel) , Amã (Jordânia) e Sanaa (Iêmen). No Cairo, as manifestaçõestêm sido quase diárias. No dia 17, Afeganistão e Indonésia também tiveram protestos.
O vídeo que desencadeou esta onda de protestos no mesmo dia em que os Estados Unidos relembravam os atentados terroristas de 2001 traz trechos de Innocence of Muslims, filme produzido nos Estados Unidos sob a suposta direção de Nakoula Basseky Nakoula. Ele seria um cristão copta egípcio residente nos Estados Unidos, mas sua verdadeira identidade e localização ainda são investigadas. O filme, de qualidades intelectual e cultural amplamente questionáveis, zomba abertamente do Islã e denigre de a imagem de Maomé, principal nome da tradição muçulmana.
A Casa Branca lamentou o conteúdo do material, afirmou não ter nenhuma relação com suas premissas e ordenou o reforço das embaixadas americanas. No dia 15 de setembro, a Al-Qaeda emitiu um comunicado no qual afirmava que a ação em Benghazi foi uma vingança pela morte do número 2 da rede terrorista no Iêmen em um ataque do Exército.