Na tentativa de reverter o placar favorável à absolvição da ex-gerente financeira da SMP&B Geiza Dias, o ministro Marco Aurélio Mello contrariou em seu voto nesta quinta-feira a alegação de que a ré era apenas uma funcionária do empresário Marcos Valério e não cometeu o crime de lavagem de dinheiro na ação penal do mensalão. O ministro, que condenou oito réus, considerou que Geiza, que já foi chamada de "mequetrefe" e comparada a um frentista de posto no julgamento, é a autora material do crime e disse que todos deveriam ser absolvidos se ela fosse livrada da condenação.
Em seu voto, Marco Aurélio condenou os réus Marcos Valério, Cristiano Paz, Ramon Hollerbach, Simone Vasconcelos, Geiza Dias, Katia Rabello, José Roberto Salgado e Rogério Tolentino. Ele absolveu o atual vice-presidente do Banco Rural, Vinicius Samarane, e a ex-vice Ayanna Tenório.
"Se não fosse Geiza, os pagamentos teriam ocorrido? Posso não concordar com a remuneração, com o salário formal da acusada. Penso que ela merecia mais pelo que ela fez, até mesmo pelo cargo ocupado na agência", ironizou o ministro, contrariando o voto do revisor Ricardo Lewandowski, que comparou os rendimentos da ré como os de uma empregada doméstica.
"Ela tinha o domínio da tramoia, o conhecimento dos fatos. Ela era depositária da confiança de Marcos Valério. Enquanto esse agia como autor intelectual, ela agia na prática da lavagem como autora material", sustentou Marco Aurélio.
Ao citar os e-mails que a ex-funcionária enviada à agência do Banco Rural para acertar os saques dos valores, Marco Aurélio foi interrompido pelo ministro Luiz Fux, que destacou os beijos ao final das mensagens. "Só o coração bom do ministro Toffoli para entender que ela foi condenada por um beijo. Se tivesse, era o beijo da morte que ela dava no final dos e-mails", afirmou oa fazer referência ao voto de Dias Toffoli, que absolveu a ré.
Retomando seu voto, Marco Aurélio argumentou que Geiza era peça chave no esquema. "Ao absolver Geiza, devemos absolver a todos. Então a lavagem teria ficado no simples campo da cogitação intelectual. Absolver Geiza é olvidar, é colocar em segundo plano esses elementos probatórios que escancaram a culpabilidade", acrescentou o ministro, que dedicou quase todo seu voto para falar da acusada.