A taxa de desemprego continua a subir a um ritmo dramático. Se há um ano era um problema, hoje é uma tragédia nacional. Uma fatalidade que vai continuar a crescer, pois todas as previsões apontam para o aumento do desemprego pelo menos durante os próximos dois anos.
Um ano depois da assinatura da ajuda externa ao país os dados revelam que há 819 mil pessoas fora do mercado de trabalho, mais 130 mil que em janeiro de 2011 – mas considerando todos aqueles que já “desistiram” de arranjar trabalho, os analistas falam em cerca de um milhão e cem mil pessoas sem ocupação. A agravar a situação, quase metade dessas pessoas são desempregados de longa duração. E 23% dos jovens com menos de 25 anos não estão empregados, nem expectativas de vida.
Por outro lado, 67% dos jovens que frequentam o ensino superior tem no Estado (carreira no serviço público) o seu primeiro objetivo de profissionalização. Ou seja, a maioria dos jovens, perante a crise e as dificuldades de conseguir trabalho, sonha com um lugar na função pública e não tem no horizonte qualquer iniciativa de empreendedorismo ou auto-emprego.
De resto, e muito para além do que dizem governantes sobre a emigração, milhares de pessoas partiram à procura de melhores condições de vida (num fluxo iniciado muito antes do atual governo ter assumido). E a tendência é de crescimento dessa diáspora enquanto a chefia de estado em vez de procurar soluções e definir uma estratégia, se limita a constatar o óbvio: que o país já não se consegue criar trabalho para todos a não ser distribuir benécias. Foi também assim nos anos 60 e 70. E como nesses tempos, as pessoas partem muitas vezes sem saberem o que os espera. Se há 50 anos partiam indocumentados, a “salto, sem formação, para fugirem à miséria, à procura do que fosse para matar a fome; hoje, partem para fugir à pobreza, com formação (nem sempre), com direitos, mas com a mesma disponibilidade de fazerem de tudo para sobreviverem.
Mas o que se nota nas nossas cidades é muito mais intenso do que os próprios números oficiais: há cada vez mais pessoas nas ruas, nas lojas, nos cafés, no campo, mas não estão consumindo ou então estão se individando. A desertificação é cada vez mais evidente nesse sentido. O êxodo rural, das regiões que morrem em depressão ou das cidades que dependem de uma suposta vida ativa, constituída por serviços públicos em vias de extinção e por funcionários públicos cujo lugar será posto em causa um dia destes. O inchaço ´da máquina pública é um exemplo maior. A continuar neste estado endémico, depressivo e agonizante, com a fuga dos seus filhos, que cidade teremos nos próximos anos? Que serviços serão encerrados? Que profissionais poderão continuar a trabalhar por aqui? Ao que parece ninguém está muito preocupado com isso. Ou pelo menos ninguém com responsabilidades – basta ouvir os estridentes discursos dos nossos dirigentes que parecem muito satisfeitos com aquilo que têm, que temos, e justificam com facilidade a decadência da vida econômica vangloriando-se da diminuição da poblreza por meio de programas sociais que colocam em giro o dinheiro público dos impostos, mas não gera trabalho e sim subserviência. A crise e a explosão da bolha que se aproxima serve para tudo. Atenção, se o leitor pensa que o texto se refere à nossa pátria mãe, o Brasil, se engana, o texto se refere a Portugal.
|