Um dos casos de empreendedorismo mais bem-sucedidos da história, a trajetória da rede social Facebook, de Mark Zuckerberg, vem passando recentemente por um capítulo fora de sua curva até então ascendente. O lançamento de suas ações na bolsa de valores Nasdaq, no dia 18, foi recebido com cautela pelos investidores, o que fez com que seu valor despencasse 20% em três dias, de US$ 38 para US$ 32. O caso levanta novamente dúvidas sobre sua capacidade de gerar lucros e gera questionamentos a respeito do valor de mercado da empresa - ao redor de US$ 100 bilhões - que poderia ser fruto de uma bolha especulativa.
"O preço do Facebook está hiperinflado no momento, mas isso não quer dizer que a empresa vá cair. Tudo depende de ela concretizar as apostas que estão sendo feitas, de se tornar de fato uma encruzilhada de tudo o que se faz na internet", analisa Guilherme Cavalcanti, presidente da Cesar Participações. A empresa é um braço do Centro de Estudos de Sistemas Avançados de Recife (Cesar), núcleo privado de inovação em tecnologia da informação (TI).
O especialista extraiu algumas lições a partir dos erros e acertos do Facebook - e que podem ajudar o empreendedor a tirar proveito da experiência para seu próprio negócio.
1) Tenha cautela ao procurar por investimento
Com a decepção gerada pelo lançamento do Facebook, o empreendedor, principalmente aquele que atua na área de tecnologia da informação, poderá ter mais dificuldade para obter financiamento. "Se antes provar que sua startup gerava um bom fluxo de pessoas já era motivo o suficiente para se obter lucro, agora as coisas mudaram", diz Guilherme.
2) Fluxo de pessoas não representa lucro; tenha uma estratégia de rentabilidade
Um dos problemas do Facebook é que, apesar de ter mais de 800 milhões de usuários ativos, ainda não tem uma fonte de renda grande o suficiente para justificar seu valor de mercado. "Isso vale também para outros setores, como empresas de evento. Muitas vezes, fazem festas de grande sucesso, conseguem um grande público, mas têm que fazer uma cotação entre os acionistas para pagar a conta."
Segundo Guilherme, um erro comum é procurar resolver a equação somente com venda de publicidade online. Ele alerta, no entanto, que o mercado publicitário continua ainda bastante focado em mídias tradicionais. "Noventa por cento dos modelos de negócio que recebo dizem que terão fonte de receita com publicidade. A conta simplesmente não fecha."
3) Seja transparente
Ao fiasco no preço das ações se somou outro problema: insatisfeitos com os prejuízos, investidores acusam o Facebook e bancos envolvidos no processo de venda das ações de terem fornecido informações privilegiadas para certos parceiros.
Para Guilherme, no entanto, a transparência da empresa em outras ocasiões ajuda a protegê-la desse tipo de ação. "Mark Zuckerberg já disse com clareza em entrevistas que não sabe exatamente quais serão suas fontes de receita. Ninguém está sendo enganado, o problema é o efeito 'manada' dos investidores", diz.
4) A estratégia da criação de desejo
Durante o período de sua criação, em 2004, o Facebook crescia de forma restrita, sempre a partir de convites. Inacessível para consumidores longes dos centros universitários, o produto passou a ser cada vez mais cobiçado, o que auxiliou em seu rápido crescimento quando foi liberado para o público em geral. "Estar no Facebook tem um elemento de pertencimento, de fazer parte do mundo. Hoje, há senhoras de 80 anos esnobando umas às outras por não estarem na rede social", diz Guilherme.
5) Seja simples e rápido
Um dos pontos positivos da rede social é seguir uma política de atualização constante, criando novos produtos e se renovando sempre para manter o interesse dos usuários. Guilherme cita o caso da ferramenta timeline. "Eles copiaram do Twitter com uma rapidez impressionante", diz.
6) Saiba trabalhar os dados dos seus clientes
O grande trunfo da publicidade vendida pelo Facebook é que, trabalhando a infinidade de dados disponibilizados pelos seus usuários, a empresa pode fazer com que anúncios cheguem exatamente ao perfil de consumidor final que desejam. "Muitas empresas brasileiras têm dados relevantes, mas não fazem nada com eles", diz Guilherme.
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