Os governistas reagiram com um misto de surpresa, ironia e indignação às críticas feitas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao desempenho do governo Lula nesses primeiros cinco meses. O presidente do PT, José Genoino, disse que Fernando Henrique deveria ter mais humildade e ironizou os ataques aos juros altos.
— O ex-presidente deveria ter mais humildade e pensar dez vezes antes de falar de juros altos. Ele mostrou falta de postura presidencial. Eu achava que ele ficaria mais tempo de quarentena, mas o ego não deixou. O discurso dele é profundamente apressado, não se pode comparar oito anos com seis meses — disse Genoino.
O presidente do PT afirmou que a expectativa do governo era de que Fernando Henrique se mantivesse à distância por mais tempo e fosse mais contido nas críticas, já que, segundo ele, houve um acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na transição para que não houvesse ataques à gestão anterior.
— Encaramos as críticas com total naturalidade, mas vamos rebatê-las democraticamente, até para mostrar que ele governou por oito anos e nos entregou o país numa situação muito difícil. Mas não vamos olhar pelo retrovisor, vamos olhar pelo pára-brisa para consertar o país daqui para a frente — afirmou o presidente do PT.
Os ataques feitos pelo tucano ao governo petista não eram esperados e causaram apreensão aos principais articuladores políticos do Palácio do Planalto. Os aliados e os tucanos fazem uma mesma avaliação sobre as razões que levaram Fernando Henrique a fazer um ataque tão contundente: tirar o PSDB do imobilismo e reaglutinar o partido. Mas a perspectiva de ter o ex-presidente como líder da oposição preocupa o Planalto.
“FH esquece o que disse e fez”
Os líderes do governo na Câmara e no Senado, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Aloizio Mercadante (PT-SP), num discurso combinado, compararam Fernando Henrique ao ex-presidente da Argentina Carlos Menem.
— Cabe a Fernando Henrique destino semelhante ao do ex-presidente Carlos Menem. Primeiro, ele torce pelo fracasso do sucessor. E depois, se persistir nesse caminho, vai receber a rejeição da sociedade brasileira, principalmente em função da situação em que ele deixou o país. Suas declarações foram pouco equilibradas — disse Rebelo.
No Senado, Mercadante insinuou que Fernando Henrique pretende se apresentar como candidato pela terceira vez em 2006.
— Temos assistido na história latino-americana a várias atitudes parecidas. O ex-presidente Carlos Menem fez uma campanha contra o governo e acho que contribuiu para a crise que a Argentina viveu. Achava que ia ser ressuscitado pelas eleições, mas não foi o que ocorreu. Felizmente, a Argentina não cometeu o mesmo erro duas vezes. A Argentina pensou para frente, mudou, e mudou para melhor. O Brasil já fez essa opção: mudou para melhor — disse.
O líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), rebateu as críticas do ex-presidente aos métodos políticos do atual governo afirmando que quem promoveu farta distribuição de cargos públicos para aprovar a emenda da reeleição foi o tucano:
— O Fernando Henrique esquece o que disse e o que fez. Ele devia olhar para o passado dele, pois foi seu desgoverno que levou o país a essa situação econômica. Quem foi que promoveu um festival de distribuição de cargos e de verbas do Orçamento para aprovar a reeleição?
Para Mercadante, Lula assumiu com uma herança perversa, que exigiu medidas para a recuperação dos instrumentos de política econômica e o saneamento das finanças:
— O ex-presidente falta à verdade quando fala de seu governo. O caminho da mudança para o crescimento sustentado, seguro, para um país socialmente generoso e mais fraterno está se dando com o presidente Lula. As afirmações dele (FH) não se sustentam nos fatos nem nas estatísticas e mostram por que o povo brasileiro quis mudar e mudar o Brasil para melhor.
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