Personagens mentirosos ganham simpatia do público usando o humor

 

TV - 02/04/2012 - 21:28:22

 

Personagens mentirosos ganham simpatia do público usando o humor

 

Da Redação com agências

Foto(s): TV Globo/Divulgação

 

Iara, a falsa médium interpretada por Claudia Jimenez em 'Aquele Beijo', é do tipo de mentirosa incorrigível

Iara, a falsa médium interpretada por Claudia Jimenez em 'Aquele Beijo', é do tipo de mentirosa incorrigível

Lembrar de algum vilão da teledramaturgia que não tenha sido mentiroso é uma missão impossível. Mas a mentira nunca foi exclusividade dos personagens que atormentam mocinhos e mocinhas. Máscaras, próxima novela da Record, vai apostar na ideia de que o fingimento faz parte da vida de qualquer pessoa. Por isso, o nome da trama representa a fachada social atrás da qual todos escondem o seu verdadeiro "eu". Todos os personagens estarão envolvidos em alguma mentira, caso, por exemplo, de Nair, de Eliete Cigarini, que no folhetim fingirá ser amiga da atual mulher de seu ex-marido para reconquistá-lo. As mentiras, no entanto, podem ter diversas razões. Seja o "espertalhão" que inventa uma falsa identidade para dar um golpe, o mentiroso incorrigível, ou até alguém que inventa um falso dom ou talento para lucrar. Esse último exemplo é o exato perfil de mãe Iara, vivida por Claudia Jimenez em Aquele Beijo. A falsa médium tanto fingiu uma paranormalidade para conseguir dinheiro e para se aproximar de rapazes bonitos, que acabou desenvolvendo os poderes. E, mesmo depois de morrer, continuou perseguindo os jovens. "Os garotões sempre foram o fraco dela", opina Claudia Jimenez.

No caso do célebre Chicó, vivido por Selton Mello em O Auto da Compadecida - série da Globo, baseada na peça teatral homônima de Ariano Suassuna - a própria mentira era o seu ponto fraco. Ele era o típico mentiroso compulsivo e fez sucesso planejando elaboradas estratégias para fugir das dificuldades. De uma perspectiva um pouco diferente, Agostinho Carrara, interpretado durante os últimos 11 anos por Pedro Cardoso em A Grande Família, também tem características que demonstram ser um reflexo da realidade que o cerca. No seriado, Agostinho aplica pequenos golpes e inventa situações para conseguir ficar bem cotado na família ou para arranjar um dinheiro extra. Para o ator, o personagem é um herói sem caráter, que muito se assemelha ao protagonista de Macunaíma, romance de Mário de Andrade. "Ele se adapta às situações e reflete aspectos da sociedade brasileira", analisa.

Apesar de existirem personagens mitômanos compulsivos, a maioria tem motivos muito específicos para inventarem histórias mirabolantes. A mais comum tem relação direta com o amor e a atração física. Para encobrir a traição, a mentira é mais do que necessária. É o caso, por exemplo, das falsas santas Norminha, de Dira Paes, em Caminho das Índias, e Creusa, de Juliana Paes, em América. "Já conheci mulheres desse tipo. Parece que o prazer de enganar os homens é o que acende a sensualidade delas", teoriza Juliana Paes.

O mais novo personagem a mostrar sua habilidade com múltiplos relacionamentos é Cadinho, vivido por Alexandre Borges em Avenida Brasil, atual novela das 21h da Globo. Ele não só trai, como mantém três famílias diferentes. "O Cadinho tem, na verdade, duas esposas e uma amante. É uma situação complicada e inusitada, mas a novela trabalha isso de forma bem descontraída", opina Alexandre. Assim como Cadinho, a trama de Berilo, encarnado por Bruno Gagliasso em Passione, também tratou sobre a bigamia. Na história, o imigrante italiano se casa com uma esposa na Itália e outra no Brasil. "Ter uma vida dupla era o único jeito de ele ter as duas", defende Bruno Gagliasso.

Alguns personagens, no entanto, inventam ou acrescentam informações sobre si mesmos no melhor estilo "Beto Rockfeller", de Luis Gustavo, em 1968 na TV Tupi. É o caso do cabeleireiro Mocho, interpretado por Jandir Ferrari em Amigas e Rivais, do SBT. Como estava perdendo clientes por não ser gay, ele resolve assumir uma falsa homossexualidade. Outros personagens vão além. Ao invés de só contarem ou espalharem inverdades, eles se disfarçam e atuam em "prol" de seus objetivos protegidos por uma identidade falsa. Seguindo esse tipo de trapaça, destacou-se Antônio Carlos Volpone, de Ney Latorraca. Em Um Sonho a Mais, de 1985, o personagem era um milionário excêntrico que usava quatro disfarces diferentes para despistar os fofoqueiros e os que estavam interessados em sua fortuna. Uma das "personas" que ele inventou, Anabele Freire, agradou tanto o público, que chegou a se casar. "Quase enlouqueci fazendo tantos tipos diferentes", relembra Latorraca.

Outro que usou e abusou de uma falsa identidade foi Ariclenes Martins, de Ti Ti Ti, encarnado na primeira versão por Luis Gustavo e por Murilo Benício no remake. Motivado pela disputa com o rival de infância, André/Jacques Léclair, de Reginaldo Faria e Alexandre Borges na primeira e segunda versão, respectivamente, ele resolve entrar no ramo profissional do arqui-inimigo, a moda, fazendo-se passar por um conceituado estilista espanhol chamado Victor Valentim. No remake, Maria Adelaide Amaral precisou fazer ajustes na história para que a mentira do protagonista fizesse sentido nos dias atuais, em que as pessoas tem acesso a todo tipo de informação com extrema rapidez. "O novo Victor Valentim usou as novas mídias como forma de sustentar a farsa. Ao mesmo tempo que aceleram a velocidade das informações, elas favorecem as fraudes e as mentiras", explica.

Amparo da comédia

A traição não é engraçada. Mas, estranhamente, é comum que homens ou mulheres envolvidos em relacionamentos extra-conjugais sejam incluídos no núcleo cômico das produções. Berilo, de Passione, é um grande exemplo disso. "Mesmo amparado na questão da traição, o triângulo amoroso serviu para dar leveza à trama", analisa o autor Silvio de Abreu.

O carisma desse tipo mora na possibilidade de eles se prejudicarem a qualquer momento por culpa própria. Eles mentem, mas sofrem e, em alguns casos, até se arrependem. A comédia, desde o seu surgimento, na Grécia Antiga, trabalha com o fato o público gostar de rir da desgraça alheia. "O politicamente correto é muito recente na história da comédia. Desde o século IV antes de Cristo, ela se baseia, sobretudo, na ridicularização de alguns tipos sociais", analisa Maria Adelaide Amaral.

 

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