Lindemberg pede perdão e nega intenção de matar Eloá

 

ABCD - 15/02/2012 - 18:22:16

 

Lindemberg pede perdão e nega intenção de matar Eloá

 

Da Redação com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Lindemberg confirmou que disparou contra Eloá no momento da invasão da polícia

Lindemberg confirmou que disparou contra Eloá no momento da invasão da polícia

Lindemberg Alves Fernandes quebrou nesta quarta-feira o silêncio após três anos e falou pela primeira vez sobre as 101 horas de cárcere privado que terminaram com a morte da estudante Eloá Pimentel, em outubro de 2008, em Santo André, no ABC Paulista. À juíza Milena Dias, ele afirmou que não foi ao apartamento com a intenção de matar a adolescente, mas que se surpreendeu ao encontrá-la com colegas no local. Ele disse ainda que andava armado porque sofria ameaças de morte e pediu perdão à família de Eloá.

 

Lindemberg afirmou que tinha livre acesso à residência, devido à amizade que mantinha com a família da jovem. "Fiquei surpreso com a presença do Iago (de Oliveira), do Victor (de Campos) e da Nayara (Rodrigues) no apartamento. A Eloá ficou assustada ao me ver", disse. A jovem, segundo ele, não conseguiu explicar o que os três estavam fazendo lá, e começou a chorar e a gritar.

"Eu conhecia o Iago e a Nayara, mas não o Victor. Perguntei a ele se tinha 'ficado' com ela e ele confirmou. Depois de um tempo, ela confirmou também". Lindemberg, então, mostrou a arma que carregava e pediu para conversar com a namorada sozinho, mas os três se recusaram a deixar o apartamento.

Lindemberg afirmou também que, durante o período em que ficou com Eloá no apartamento, já tinha se conformado em ser traído. "Ela virou as costas para mim com aquela atitude. A partir dali, não me via mais com ela. Perdi a confiança. Infelizmente, não que eu concorde, hoje é comum a traição", disse.

Visivelmente nervoso, ele foi repreendido algumas vezes pela juíza. Em vários momentos, a magistrada disse que não entendia a versão do réu. No fundo da sala, a família de Eloá - mãe e dois irmãos -, além de duas irmãs do acusado, acompanharam a versão dele sobre os fatos. Em alguns momentos, a mãe de Eloá chorou.

Lindemberg afirmou que os dois namoravam desde 2006 e haviam terminado em setembro, três semanas antes do cárcere. O réu afirmou que tentou voltar com Eloá diversas vezes, mas a adolescente recusava. "Ela me deu uma canseira (nas tentativas de reatar) e eu pensei 'preciso retomar minha vida'." Ele disse, então, que 'ficou' com uma menina, mas que Eloá descobriu, chorou muito e pediu para voltar.

Quando retomaram o relacionamento, o casal fez, segundo Lindemberg, um "pacto" para não contar a ninguém porque a família de Eloá não poderia saber, uma vez que a jovem teria mentido que Lindemberg havia batido nela. "Acho que a Eloá não tinha coragem de expor ao pai que ela tinha mentido sobre a agressão", disse.

Ele afirmou ainda que estava armado porque havia recebido ameaças de morte e, por isso, decidiu comprar um revólver. "Tinha muito medo de morrer", afirmou. O réu disse ter usado a arma nos 20 dias anteriores à morte da ex-namorada. "Eu comprei a arma de um senhor que precisava de dinheiro para voltar pra terra dele."

Trágico desfecho
Segundo Lindemberg, os amigos de Eloá se negaram a deixar o apartamento quando ele exigiu ficar sozinho com a ex-namorada. Por isso, ele considerou que os três não foram mantidos em cárcere privado. Segundo o réu, eles podiam entrar e sair a hora que quisessem, mas ficaram por solidariedade à Eloá.

Lindemberg disse também ter ficado muito nervoso com a chegada da polícia, no primeiro dia de cárcere. "A situação tinha ficado difícil", disse. Segundo ele, Eloá começou a gritar muito e ele mostrou a arma para a namorada, mas a polícia viu. "Agora eu estava em um processo que eu não sabia como contornar a situação, eu estava perdido."

Ele negou ter disparado contra o sargento Atos Valeriano e considerou a acusação de tentativa de homicídio contra o PM uma "ficção". "Eu fiquei sabendo pela minha advogada. Fiz disparos para o chão (da janela), mas para policial nenhum", disse, classificando os tiros como ato de nervosismo.

Durante o tempo que permaneceu no apartamento, Lindemberg disse ter se lembrado do sequestro do ônibus 174 no Rio de Janeiro, em 2000, que terminou com a morte do sequestrador e da vítima que permaneceu com ele no interior do coletivo. Ela foi atingida com um tiro acidental da polícia e alvejada pelo sequestrador, que acabou morto a caminho da delegacia, por asfixia.

"Eu não deixei o apartamento porque estava com medo da polícia. O clima estava muito tenso. Eu ia em uma janela e via polícia. Ia em outra e era a mesma coisa. Eu não entendia nada de polícia. Para mim era tudo novo."

Ele insistiu na reação da polícia para justificar o tempo no cárcere. "Eu não tinha confiança na polícia. Em certo momento, a polícia abaixou a maçaneta da porta, quando disseram que não se aproximariam. Ali perdi a confiança."

Lindemberg disse ainda que em alguns momentos Eloá teria ficado histérica com a situação. "Quem estava do lado de fora imaginava que eu estava batendo nela", disse.

Ele confirmou que atirou contra Eloá após a polícia explodir a porta. "Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei. Foi tudo muito rápido", afirmou. Ele acrescentou que não poderia afirmar que havia atirado contra Nayara porque não se lembrava.

Pedido de perdão a mãe de Eloá
No ínicio do depoimento, ele pediu desculpas. "Eu vim para contar a verdade, porque eu tenho uma dívida muito grande com a família dela. Eu queria pedir perdão em público, porque eu entendo a dor da Dona Tina (em referência a Ana Cristina, mãe de Eloá). Eu queria pedir perdão pra ela por tudo o que aconteceu", disse.

Ele afirmou que o gesto que fez para Ana Cristina na terça-feira, no plenário - considerado pela mãe de Eloá como um sinal de "alivia a minha barra" -, foi na verdade um pedido de perdão.

O mais longo cárcere de SP
A estudante Eloá Pimentel, 15 anos, morreu em 18 de outubro de 2008, um dia após ser baleada na cabeça e na virilha dentro de seu apartamento, em Santo André, na Grande São Paulo. Os tiros foram disparados quando policiais invadiam o imóvel para tentar libertar a jovem, que passou 101 horas refém do ex-namorado Lindemberg Alves Fernandes. Foi o mais longo caso de cárcere privado no Estado de São Paulo.

Armado e inconformado com o fim do relacionamento, Lindemberg invadiu o local no dia 13 de outubro, rendendo Eloá e três colegas - Nayara Rodrigues da Silva, Victor Lopes de Campos e Iago Vieira de Oliveira. Os dois adolescentes logo foram libertados pelo acusado. Nayara, por sua vez, chegou a deixar o cativeiro no dia 14, mas retornou ao imóvel dois dias depois para tentar negociar com Lindemberg. Entretanto, ao se aproximar do ex-namorado de sua amiga, Nayara foi rendida e voltou a ser feita refém.

Mesmo com o aparente cansaço de Lindemberg, indicando uma possível rendição, no final da tarde no dia 17 a polícia invadiu o apartamento, supostamente após ouvir um disparo no interior do imóvel. Antes de ser dominado, segundo a polícia, Lindemberg teve tempo de atirar contra as reféns, matando Eloá e ferindo Nayara no rosto. A Justiça decidiu levá-lo a júri popular.

 

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