Ao dar as boas vindas ao novo ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), a presidente Dilma Rousseff agradeceu ao antecessor e afirmou que a troca na chefia não deve alterar os projetos da pasta. "Muda o comando do ministério, mas a tarefa persiste. É parte intrínseca do modelo de desenvolvimento que estamos procurando", disse ela.
"Quero agradecer a colaboração, o empenho e o trabalho do deputado Mário Negromonte à frente do ministério das Cidades", iniciou a presidente, que mostrou confiança na futura relação com o ex-ministro Mário Negromonte (PP-BA) de volta ao parlamento. "Tenho certeza que continuarei com a contribuição e apoio desse baiano, deputado federal e integrante da nossa base aliada", acrescentou.
Em seguida, voltando-se para Aguinaldo Ribeiro, Dilma reiterou a importância da pasta para o Planalto e para as ações prioritárias do governo. A presidente classificou Cidades como "um ministério fundamental para o governo", de cujas missões faz parte garantir o investimento e a distribuição de renda para manter o crescimento do País.
"Acesso a moradia, à água, a esgoto, para toda a população brasileira, ordenamento urbano de qualidade em todas as cidades estão entre as metas que buscamos de maneira mais obstinada", disse a presidente. Antes de finalmente desejar "mãos à obra" a Ribeiro, Dilma cobrou do novo ministro "dedicação total a essas prioridades".
Novo ministro das Cidades sobre denúncias: 'não tenho o que temer'
Empossado nesta segunda-feira como ministro das Cidades e já alvo de denúncias de favorecimento a familiares na condição de deputado federal, Aguinaldo Ribeiro minimizou as acusações que envolvem a sua vida política antes de ter sido indicado pela presidente Dilma Rousseff para comandar a pasta. O novo ministro teria destinado um volume de R$ 780 mil em emendas parlamentares ao município de Campina Grande (PB), a cuja prefeitura sua irmã, Daniella Ribeiro, concorre.
"Então, eu não tenho o que temer. Acho que foi extremamente averiguado nesses dias antes de assumir o ministério. O próprio governo também fez essa avaliação, portanto nós estamos absolutamente tranquilos. Não tenho nada do que esconder", disse o novo ministro.
Ribeiro ainda não formou sua equipe, mas promete buscar a partir de amanhã "os melhores quadros com eficiência e eficácia na nossa gestão". Segundo fontes do governo, Dilma quer que a atual secretária de Habitação, Inês Magalhães, seja promovida a secretária-executiva, segundo cargo mais alto na hierarquia de um ministério.
"Cristão novo" na política nacional, Aguinaldo negou que haja divergências no partido ou "fogo amigo" motivado por insatisfações de setores do PP com a escolha de seu nome para comandar o Ministério das Cidades.
"Hoje a demonstração foi de unidade no nosso partido. Nós inclusive assumimos hoje um ministério deixando aos cuidados da liderança o deputado Arthur Lira, em votação unânime, ou seja, demonstrando que o partido está pacificado, está unido, e isso é uma condição ímpar para que nós possamos trabalhar com tranquilidade", disse.
A queda de Negromonte
O ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), foi o sétimo ministro do governo Dilma Rousseff a pedir demissão após denúncias de irregularidades em suas pastas. Ele pediu demissão à presidente em 2 de fevereiro de 2012 por não resistir à pressão, mesmo após negar no Senado as acusações.
As denúncias começaram ainda no primeiro ano da gestão Dilma, quando o jornal O Estado de S. Paulo publicou um documento que teria sido forjado pela diretora de Mobilidade Urbana da pasta, Luiza Gomide, para adulterar um parecer que vetava a mudança de um projeto de mobilidade em Cuiabá (MT). Com a suposta alteração, os custos da obra foram ampliados em R$ 700 milhões.
Havia, ainda, a suspeita de que o tesoureiro do Partido Progressista, Leodegar Tiscoski, e outros executivos ligados à legenda favoreciam empreiteiras no gabinete do ministério liberando recursos para obras consideradas irregulares pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Dias antes da demissão, o jornal Folha de S.Paulo publicou que Negromonte teria participado, junto com o secretário-executivo da pasta, Roberto Muniz, de reuniões privadas com um empresário e um lobista. Após a reportagem, o chefe de gabinete do ministro, Cássio Peixoto, foi demitido.
Troca-troca nos ministérios
O governo de Dilma Rousseff vem enfrentando sucessivas quedas de ministros desde os primeiros seis meses do mandato da presidente, sendo que sete deixaram os cargos por supostas irregularidades. O primeiro a cair foi Antonio Palocci (PT), ex-ministro da Casa Civil, no dia 7 de junho de 2011, após denúncias de que seu patrimônio teria aumentado 20 vezes em quatro anos, sob suspeita de tráfico de influência. Cerca de um mês depois, Alfredo Nascimento (PR) deixou o Ministério dos Transportes, após a descoberta de um suposto "mensalão" que seu partido teria montado dentro da pasta.
Nelson Jobim (PMDB) deixou o Ministério da Defesa, no dia 4 de agosto, depois de criticar publicamente colegas do primeiro escalão. No mesmo mês, Wagner Rossi (PMDB) pediu demissão do Ministério de Agricultura, enfraquecido por suspeitas de ligações com um lobista. Em setembro de 2011, Pedro Novais (PMDB) entregou seu cargo no Ministério do Turismo, após denúncias de que teria usado recursos públicos para pagar empregados de sua família.
No dia 26 de outubro, o então ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), deixou o cargo depois que a imprensa noticiou supostas fraudes em contratos entre a pasta e organizações não-governamentais (ONGs). A suspeita de irregularidades envolvendo ONGs também foi motivo da queda do ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), em dezembro de 2011. No dia 2 de fevereiro de 2012, foi a vez do ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), desgastado por denúncia de que uma diretora da pasta teria adulterado um parecer técnico, superfaturando uma obra de mobilidade em R$ 700 milhões.