Primeiro filme dirigido por Marcos Paulo, Assalto ao Banco Central estreia nesta sexta-feira (22) nos cinemas do País. O trabalho é inspirado em um assalto ao Banco Central de Fortaleza, no Ceará, em 2005, no qual os ladrões roubaram R$ 164,7 milhões sem serem vistos pelas câmeras de segurança e carregaram essas 3,5 toneladas de dinheiro por um túnel cavado por eles mesmos. Em entrevista, o diretor disse que seu longa é uma piada com o ocorrido e com a forma como as coisas acontecem no País: "mais um grande deboche da história do Brasil".

Seu filme parece ter muita influência dos anos de direção na TV. Isso não atrapalha no momento de dirigir um trabalho no cinema?
Marcos Paulo - Minha experiência de 40 anos na TV interferiu e muito. Fazer novela é uma grande escola, principalmente para os diretores, pela diversidade e velocidade das decisões que precisam ser tomadas, impossível não levar essa bagagem para quaisquer outros trabalhos, mas é claro que pensamos tudo de um jeito que não atrapalhasse, só contribuísse.
Há alguma razão para alguns personagens surgirem na trama, mas acabarem não se desenvolvendo? Por exemplo, a sua mulher, Antonia Fontenelle, que aparece como a namorada da delegada (Giulia Gam).
Marcos Paulo - Certas coisas não precisam ser ditas no cinema, nem mostradas. Algumas relações podem ser apenas indicadas, essa é a mágica, fazer o espectador se envolver, montar a história na cabeça dele. Naquele momento, faz sentido mostrar que a delegada tem uma namorada.

Como surgiu a ideia de fazer uma história que falasse sobre este assalto?
Marcos Paulo - Estávamos conversando em um bar de Fortaleza, no Ceará, Antonia, eu e mais alguns amigos, e comentamos sobre esse assalto, lembramos que foi em 2005 e bateu curiosidade de saber o que tinha acontecido com aquelas pessoas, com os R$ 140 milhões que nunca foram encontrados. Mas é importante dizer que em nenhum momento tivemos a pretensão de solucionar um crime que a polícia não conseguiu, queríamos divulgar para as pessoas que não sabem como isso aconteceu, o público.
Como foi o processo de busca de informações para montar este filme?
Marcos Paulo - Recorremos a jornais e outros veículos com notícias da época e buscamos contatos na polícia, de pessoas que investigaram isso desde o começo e, principalmente, tivemos o cuidado de saber o que não se descobriu sobre este assalto ainda. O filme contou com consultorias da Polícia Federal do Brasil, Polícia Rodoviária Federal, Banco Central, geólogos e empresas de segurança bancária, além do suporte da Equipe de Coordenação de Armamentos. Mas, de qualquer forma, é inspirado em fatos reais, se trata de uma ficção em que a gente pode contar verdades usando mentiras, no bom sentido.
O filme parece terminar de uma maneira que indica uma continuação, talvez uma adaptação para a TV, uma série. Isso pode acontecer?
Marcos Paulo - Nem tudo foi desvendado, falta dinheiro. Quem sabe? Se a história também se desenrolar... Mas, não fizemos o longa pensando nisso.

Em certos momentos que a história pede tensão, algumas piadas são feitas e parecem cortar o "clima". Você pode explicar essa escolha?
Marcos Paulo - Encontramos uma forma debochada de contar como foi o assalto. Ninguém nunca saber onde foram parar os principais mentores dessa ideia, onde o dinheiro foi usado, é um grande deboche, mais um grande deboche da história do Brasil. Muitas coisas questões estão sem resposta até hoje.
Em certo momento da trama, as relações entre policiais e bandidos parecem se confundir e isso vem à tona muito pelo personagem do Heitor Martinez.
Marcos Paulo - Como disse, nosso filme é inspirado em fatos reais, na vida real...
Qual a importância da trilha sonora em Assalto ao Banco Central?
Marcos Paulo - Eu me reuni apenas duas vezes com André Moraes, autor da trilha sonora, que conta com a participação de Chris Pitman, tecladista dos Guns n' Roses. Mas, a trilha dá a levada do filme pro público, ela também ajuda a fazer as piadas quando a tensão já dominou a cena.