Em 9 de fevereiro deste ano, há exatos cinco meses, surgia o boato de que a Nokia, a maior fabricante de celulares do mundo, estava abandonando o MeeGo, sistema operacional que desenvolvia em parceria com a Intel. Dois dias depois, em 11 de fevereiro, a Nokia anunciou oficialmente um "amplo acordo estratégico" com a Microsoft para trabalhar em um novo sistema conjunto baseado no Windows Phone, que concorra com o iOS, da Apple, e o Android, do Google. No entanto, desde lá, nenhum smartphone Nokia com o sistema da Microsoft apareceu por aí, mas com o MeeGo já, o N9, inclusive no Brasil, mais especificamente em Porto Alegre, durante o fisl12 - Fórum Internacional Software Livre, no estande da Intel.

O MeeGo é um sistema operacional para dispositivos móveis de código aberto - ou seja, um software livre, motivo pelo qual estava presente no fisl12 -, de distribuição Linux e foi anunciado pela Intel e pela Nokia durante o Mobile World Conferece de 2010. Ele nasceu da união do Moblin, da Intel, e do Maemo, da Nokia, e funciona não apenas em smartphones, mas também em netbooks, tablets, desktops, sistemas de navegação automotiva e até em SmartTVs.
Mesmo sem contar com o apoio da Nokia, que só neste ano ainda lançará smartphones com MeeGo e Symbiam - sua plataforma desde sempre -, o MeeGo não foi totalmente abandonado pela finlandesa. A interface de usuário do framework do sistema operacional são baseadas em Qt, tecnologia nas mãos da Nokia desde a aquisição da Trolltech, em 2008. De acordo com Helio Chissini de Castro, desenvolvedor da Collabora, empresa baseada em Cambridge, no Reino Unido e que trabalha no projeto MeeGo, a Qt é o segundo motivo para Nokia e Intel estarem juntas no mesmo estande, além do Nokia n9 com MeeGo, é claro.
Segundo o desenvolvedor que reside em Florianópolis (SC), o diferencial do sistema operacional é na verdade sua essência. "O MeeGo é Linux de verdade, ele está hospedado dentro da Linux Foundation, ninguém é proprietário, nenhuma empresa é dona. Não é como o Android, que é Linux, mas tem uma máquina virtual Dalvink e um Java modificado rodando em cima. Além disso, eles dizem que o Android é aberto, mas só abrem para os desenvolvedores na época do lançamento, e a versão para tablet, a 3.0, ainda não está liberada", disse ele ao Terra.

Na opinião de Helio, o MeeGo tem espaço na medida em que é um sistema de ponta à ponta, de smartphones à sistema de navegação de carros, e que por usar Qt permite que os desenvolvedores criem uma só aplicação que poderá ser usada em diversos aparelhos e sistemas. "Eu quero vender minha aplicação para todo mundo. O custo de ter desenvolvedores que façam programas para três plataformas é enorme para as empresas", comenta.
Quanto ao futuro do MeeGo sem a Nokia, mas ainda com a Intel, Helio contou que a Toyota terá carros com o sistema, que a LG já mostrou interesse e que há rumores de um smartphone com MeeGO. Para logo, os consumidores podem esperar ver tablets com MeeGo e até uma possível parceria com a Samsung. Além da Intel, também a AMD e ARM, concorrentes da Intel no mercado de chips, estão interessadas no projeto.
Nokia N9, um Nokia com MeeGO Apresentado em 21 de junho em Cingapura, o Nokia N9 é amor à primeira vista para quem sempre foi fã de aparelhos da finlandesa. O smartphone é o sucessor do N900 e usa uma interface nova, baseada em toques, para mostrar suas telas e aplicativos. Tudo isso graças ao MeeGo. Com tela AMOLED de 3,9 polegadas e vidro Gorilla Glass (aquele ultrarresistente) curvo, para que o usuário sinta onde a tela começa. O Nokia N9 não tem nenhum botão frontal. Os únicos botões ficam na lateral direita, de volume e para bloquear/desligar o dispositivo.
Com uma interface baseada em "swipes" - no deslizar das pontas dos dedos -, ele parece menos responsivo do que os touchscreen mais comuns, mas é tudo uma questão de adaptação. Alguns minutos com o N9 na mão e eu estava acostumada: melhor um toque preciso que abre exatamente o que estamos querendo do que um toque que abre mais de uma aplicação ao mesmo tempo de tão sensível que é (ou de tão atrapalhado que o usuário é).

As configurações técnicas também satisfazem: processador de 1 GHz, opções de armazenamento de 16 GB ou 64 GB, conectividade 3G/Wi-Fi/Bluetooth e NFC (Near Field Communications, para troca de dados entre aparelhos compatíveis), som Dolby Digital Plus e Dolby Headphone, o que proporciona uma experiência de som ambiente para qualquer conjunto de fones de ouvido, câmera de 8 megapixels com lentes Carl Zeiss e câmera frontal (que por enquanto não está funcionando). Além de resistente e bonito, uma versão melhorada do Nokia N8, ele é leve e traz o MeeGo, que mesmo já sendo novo para o usuário já está no nível do iOs e do Android, e bem longe do Sybiam. "Ele é orientado para o uso pessoal, dá bastante atenção ao que o usuário acessa, ao fato dele não conseguir acompanhar tudo o tempo todo", comenta Helio Chissini de Castro.
E difícil dizer se o MeeGo é um sistema da força que tem o Android, do Google, e o iOS, da Apple, mas aparentemente, pode-se dizer que ele tem potencial. A fonte utilizada pode parecer pequena, mas é bastante nítida. Bastante intuitivo, com botões (na tela) onde o usuário espera encontrar, o MeeGo tem ícones que lembram os do iOS, mas outras funcionalidades que remetem ao Android, como a cortina de notificações. Outra referência é a plataforma da BlackBerry, do RIM: o MeeGo possui uma página de notificações, a cortina, de todos os tipos: Twitter, mensagens de SMS, Facebook, e-mail, feeds e o que mais o usuário desejar ser avisado. A lista de aplicativos compatíveis com o N9 divulgada pela Nokia inclui Facebook, Skype, Vimeo, Twitter, Foursquare, AP Mobile, AccuWeather, Wi-Fi Hotspot e Angry Birds Magic, além de acesso à loja Ovi/Nokia Store para download de novos apps.
Uma diferença do MeeGo para seus concorrentes é a home, com ícones de todas as aplicações e que é uma de suas três telas iniciais. A segunda traz os programas abertos, como se fossem páginas, e a terceira, data e hora. De acordo com Helio Chissini de Castro, os aplicativos não ficam rodando o tempo todo. "Ele guarda um contexto, que fica em espera, e recupera quando o usuário abre", explica ele, que contou também que já testou o smartphone com mais de 20 aplicações abertas. Para quem está acostumado com o padrão Windows, de ter atalhos na área de trabalho, e também em seu dispositivo móvel, seja ele Android ou iOS, ter uma home com tudo pode parecer assustador, mas Helio afirma: "não somos mais nós que ditamos a tendências, são nos adolescentes de 15 anos que os fabricantes estão interessados, eles são o mercado". É possível mudá-los de lugar e excluir alguns, que não são de sistema, mas priorizar, não. Como não sou mais adolescente, confesso que prefiro escolher os ícones da minha home.
Segundo a Nokia, o N9 estará disponível ainda este ano em três cores (preto, azul e magenta), mas não divulgou o preço. A subsidiária brasileira já informou que não há previsão de lançamento para o Brasil por enquanto, ainda que o MeeGo já tenha uma versão em português. Por enquanto, dá para ter uma ideia do que seria uma linha da Nokia com MeeGo em http://swipe.nokia.com/. Ah, e importante, durante toda a apresentação do Nokia N9 com MeeGo 1.0 (o sistema já está na versão 1.3, que deve ser lançada em breve), o aparelho não travou nenhuma vez.
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