O ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, afirmou nesta sexta-feira ao Jornal Nacional que sua empresa de consultoria, a Projeto, não atuou com contratos públicos. "A empresa jamais atuou junto a órgãos públicos diretamente ou representado empresas privadas junto a órgãos públicos", afirmou. Palocci, no entanto, se negou a dar os nomes de seus clientes. "Eu acho que não tenho direitos de fazer revelações de terceiros", disse. Essa foi a primeira entrevista do ministro depois de mais de 15 dias de silêncio sobre a reportagem do jornal Folha de S.Paulo que afirma que o patrimônio do petista cresceu 20 vezes entre 2006 e 2010.
Acusado pela oposição de enriquecimento ilícito e tráfico de influência, o ministro negou usar seus conhecimentos e contatos no governo federal em benefício de sua empresa. "O que eu fazia era uma consultoria para empresas privadas. Se a empresa tinha uma necessidade junto a um órgão público, ela tinha lá seu departamento ou a sua prestação de serviços para isso. Eu não fazia isso porque isso a lei não me permitia e eu tinha perfeita clareza do que a lei permitia ou não permitia", afirmou.
O ministro reafirmou que não fornecerá os nomes das empresas com as quais trabalhou. "Semana passada, uma empresa admitiu que teve contratos comigo e deputados da oposição foram imediatamente apresentar acusação grave contra essa empresa, que teria conseguido restituição de impostos, em tempo recorde, por minha intermediação. Veja a gravidade da afirmação", disse, lembrando que em seguida a Receita Federal divulgou que a devolução do imposto da WTorre foi por determinação judicial.
Na entrevista, Palocci disse que atuou em setores de indústria, serviços financeiros, mercado de capitais, bancos e empresas. "É um conjunto de empresas que pouco tem a ver com obras públicas. São empresas que vivem da iniciativa privada e que consideram útil o fato de eu ter sido ministro da fazenda, de ter acumulado uma experiência na área econômica. Depois que eu deixei o ministério, fiquei quatro meses respeitando a quarenta e só depois disso passei a prestar serviço de consultoria", disse. O ministro reafirmou que emitiu notas, recolheu impostos e que as informações foram prestadas à Receita Federal.
"Não fiz tráfico de influência, não fiz atuação junto a empresas públicas representando empresas privadas. Aí, como eu te provo isso? Tem que existir boa fé nas pessoas. Por isso que a lei diz que quando há uma acusação, que é legítima haver, ela deve vir acompanhada de indícios ou de provas ou no mínimo de indícios", afirmou.
Valores
O ministro foi questionado sobre os valores divulgados pelo jornal Folha de S. Paulo, de que em 2010 a empresa faturou R$ 20 milhões, sendo R$ 10 milhões nos últimos meses do ano, quando Palocci participava do governo de transição. "Os valores podem ser aproximados, eu não tenho eles nesse momento", afirmou, acrescentando ter encerrados as atividades quando foi divulgado que ele assumiria a Casa Civil. "Eu promovi um encerramento das atividades todas de consultoria da empresa, todos os contratos que eu tinha há dois anos, há cinco anos, há três anos, foram encerrados e eles foram quitados. Ou seja, aqueles serviços prestados até aquele momento foram pagos nesse momento. Por isso que há uma arrecadação maior nesse final de ano, mas são contratos de serviços prestados", disse.
Palocci não informou números, mas admitiu que nos anos anteriores da atuação da empresa (2006, 2007, 2008 e 2009), os valores foram inferiores. Questionado se os rendimentos foram metade do valor de 2010, ou 30%, 20% do valor, o ministro respondeu: "Algo nesse sentido. Se você me permitir, eu respeito todas as suas perguntas. Respeite o direito de eu não falar em valores".
O ministro afirmou ainda que toda a arrecadação da Projeto se deu por meio de contratos. "Nenhuma informação da minha empresa é secreta. Todas as informações tributárias já estão nos órgãos de controle. E todas as demais informações serão prestadas à Procuradoria Geral da República", disse, acrescentando: "não existe nenhum centavo que se refira a campanhas".
Crise
Ao telejornal, Palocci negou haver uma crise no governo Dilma Rousseff após a publicação da reportagem. "Não há uma crise no governo. Há uma questão em relação à minha pessoa. Eu prefiro encarar assim e assumir plenamente a responsabilidade que eu tenho nesse momento de prestar as informações aos órgãos competentes e dar as minhas explicações".
Nos últimos dias, membros da base aliada chegaram a sugerir o afastamento de Palocci da Casa Civil, como fez o senador Pedro Simon (PMDB-RS) no plenário do Senado. Na quinta-feira, Simon pediu que ele deixasse o governo antes da instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar sua situação financeira. Questionado sobre se havia colocado seu cargo à disposição de Dilma Rousseff, respondeu: "A presidente Dilma tem o meu e o de todos. O meu cargo e de todos os ministros. Nós não chegamos a conversar sobre esse assunto".
Assista à entrevista do ministro Palocci, na íntegra (50 minutos) para a Rede Globo.