Israel oscilou nesta quinta-feira entre ansiedade e curiosidade ante a aproximação inédita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, odiado no país por suas proposições sobre o genocídio nazista e sobre o desaparecimento do Estado hebreu, que viaja pelo sul do Líbano, na fronteira com Israel.
"A melhor reposta às agressões verbais raivosas proferidas do outro lado da fronteira com o Líbano foi dada aqui, há 62 anos", afirmou, nesta quinta-feira, em um discurso em Tel-Aviv, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, referindo-se à criação de Israel em 1948.
Do lado israelense da fronteira, apenas manifestava um grupo heterogêneo de uma dúzia de manifestantes ortodoxos e drusos árabes liderados por um deputado do partido Likud (direita) do primeiro-ministro Netanyahu. Eles tentaram lançar balões com as cores de Israel azul e branco em direção ao Líbano, mas os ventos os trouxeram de volta.
"O fato de termos ignorado Ahmadinejad foi exatamente o que o trouxe à nossa fronteira", lamentou o deputado Ayub Kara, justificando sua presença no local em companhia de dezenas de jornalistas. Incumbido de inflar os balões, um manifestante, Shabtai El-Nasi, contou: "Se pudéssemos amarrá-lo (Mahmoud Ahmadinejad) aos balões, nós o faríamos". "Ele vem inspecionar esses bunkers", disse, referindo-se às fortificações do Hezbollah xiita libanês, apoiado por Teerã, que infligiu muitas perdas ao exército israelense durante o conflito de 2006.
"O presidente iraniano apareceu como um chefe militar, passando em revista suas tropas - os terroristas do Hezbollah utilizados como braço armado de Irã na região", afirmou um alto dirigente governamental israelense, que preferiu manter-se no anonimato.
O Hezbollah, representado no parlamento libanês, figura na lista americana de "organizações terroristas". Durante um discurso em Bint Jbeil, principal local da resistência do Hezbollah à ofensiva do exército israelense de 2006, Ahmadinejad afirmou mais uma vez, sob os aplausos da multidão, que "os sionistas vão desaparecer".
O presidente iraniano foi também a Cana, cidade duplamente mártir para os libaneses, por causa dos ataques israelenses que mataram 105 civis em 1996 e 29 pessoas, incluindo 16 crianças, em 2006. "Suas intenções são claramente hostis e ele veio brincar com fogo", afirmou na quarta-feira o porta-voz do Ministério israelense das Relações Exteriores Yigal Palmor, julgando a visita "provocativa e desestabilizante".
O conflito de 2006 fez, em 34 dias, mais de 1,2 mil mortos no lado libanês, a maioria civis, e 160 do lado israelense, sobretudo militares. A imprensa israelense se interessou principalmente na aproximação física inédita de Ahmadinejad, estimando que sua visita no sul do Líbano era um sinal dirigido a Israel.
Netanyahu advertiu inúmeras vezes nessas últimas semanas contra o risco de a Cisjordânia vir a servir de base ao Irã, em caso de retirada israelense, como já acontece segundo ele, o caso do Líbano e a Faixa de Gaza controlados pelos islâmicos do Hamas, apoiados por Teerã.
"Ahmadinejad a um quilômetro", afirmou o jornal Yediot Aharonot na manchete. "Ahmadinejad - mais próximo do que nunca", dizia o jornal Maariv.
Um deputado israelense de extrema-direita, Arié Eldad, recomendou na quarta-feira que se aproveitasse a oportunidade para sumir com o presidente iraniano, a quem ele comparou a Hitler. Mas o vice-premier Sylvan Shalom garantiu que Israel "não assassinaria chefes de Estado de países totalitários que querem destruir o Estado hebreu".