Após ouvir por cerca de três horas o depoimento do contador Antônio Carlos Atella Ferreira, o delegado da Polícia Civil José Emílio Pescarmona disse que "com certeza, os dois estão mentindo". Ele se referiu à Atella e ao office-boy Ademir Estevam Cabral que prestaram depoimento sobre a quebra de sigilo de Verônica Serra e Alexandre Bourgeois, respectivamente filha e genro do presidenciável tucano José Serra.
Na versão do contador, os formulários da retirada de dados fiscais que ele levava à Receita Federal já vinham totalmente preenchidos. Ele só fazia o serviço de entrega e levava de volta o que lhe era solicitado. Atella reiterou que todos esses formulários lhe eram entregues por Ademir.
O delegado explicou que como os depoimentos foram conflitantes, será realizada uma acareação para tentar descobrir quem está mentindo. Para isso, ele quebrará o sigilo telefônico dos dois, além de ouvir outras pessoas envolvidas no caso.
Sobre seu envolvimento com o PT, Atella se declarou apartidário e disse que sua filiação junto ao partido se deu por um "impulso, enquanto participava de um showmício, com Zesé de Camargo e Luciano, realizado pelo PT em Mauá no ano de 2003". Ele disse que nem se lembrava que era filiado.
Entenda o caso
O caso veio à tona por meio de uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada no dia 31 de agosto, apontando que documentos da investigação da Corregedoria da Receita Federal revelaram o acesso aos dados fiscais da empresária Verônica Serra, filha do presidenciável do PSDB, José Serra. O acesso teria sido feito pela funcionária Lúcia de Fátima Gonçalves Milan, que trabalha na agência da Receita, em Santo André (SP), no dia 30 de setembro de 2009.
Na procuração citada pelo órgão consta a assinatura que seria da filha do candidato tucano feita no dia 29 de setembro do ano passado. O portador Antonio Carlos Atella Ferreira teria, segundo a documentação em poder da Receita, reconhecido firma no dia seguinte, quando também retirou as cópias no órgão. Para a Receita , no entanto, a apresentação da procuração descaracteriza a quebra de sigilo.
Em 1º de setembro de 2010, o 16º Tabelião de Notas de São Paulo afirmou que "o reconhecimento de firma é falso" na procuração supostamente assinada pela filha do candidato José Serra. Verônica também negou que tenha assinado tal documento.
A Receita Federal voltou atrás e reconheceu, com base nas informações do 16º Tabelionato de Notas de São Paulo, que a assinatura era falsa. Instaurou inquérito para apurar os responsáveis. A Polícia Federal ouviu o contador Antonio Carlos Atella, filiado ao PT, segundo o jornal O Estado de São Paulo, responsável por encaminhar o pedido de quebra de sigilo. Atella negou responsabilidade na falsificação da assinatura e apontou Ademir Estevam Cabral, um office-boy filiado ao PV, como o autor da encomenda.
Há suspeitas de que o sigilo fiscal do marido de Verônica e genro de José Serra, Alexandre Bourgeois, tenha sido violado. A Receita Federal nega e afirma que somente os dados cadastrais e Alexandre foram consultados.
Além de Verônica Serra e Alexandre Bourgeois, tiveram o sigilo fiscal os tucanos Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio e Gregório Preciado, pela Delegacia da Receita do município de Mauá (SP). Eduardo Jorge ainda teve o sigilo fiscal violado pela Receita, na cidade de Formiga (MG). O funcionário Gilberto Souza Amarante, também filiado ao PT, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo, é apontado como autor do crime.