Filmes que misturam cenários e atores reais (live action) com personagens em computação gráfica (CG) costumam provocar arrepios em roteiristas de bom senso. Não sem frequência a medida entre esses dois ingredientes da receita falham em conseguir um equilíbrio e o resultado muitas vezes é aquela sensação de que a produção prestou mais atenção em não errar nas imagens e esqueceu de dar importância à história e, por tabela, àquilo que faz do cinema a "maior diversão". Tendo isso dito, Como Cães e Gatos 2: A Vingança de Kitty Galore passa no teste do ETBQEDB (sigla internacional para "É Tão Besta Que É Bom"). E isso acontece porque o filme se preocupa antes com os diálogos absurdos entre caninos e felinos e somente depois adapta a imagem à ideia.
Naturalmente, com um título desse porte você entra no cinema avisado que não estará diante de nada que vá tomar muito do seu tempo assim que a sessão acabar, mas saiba que durante aqueles minutos de projeção é possível que as piadas com o mundo da espionagem e a rixa entre cães e gatos abram um discreto (ou não tão discreto assim) sorriso em você.
A trama traz alguns personagens já conhecidos do primeiro filme da franquia, mas amplia a paisagem de "sociedades secretas" criadas pelos bichinhos. E faz isso brincando de James Bond. Para esclarecer: no mundo tal qual não o conhecemos, existe uma agência secreta canina e uma agência secreta felina.
Não é preciso muito para saber que essas duas organizações trabalham sempre separadas, mas não necessariamente em lados diferentes. Afinal de contas, quando o Mal maiúsculo ameaça o planeta, tanto cães quanto gatos podem trabalhar em prol da humanidade (leia-se: em manter o status quo da boa ração no prato).
O Mal neste caso responde pelo nome de Kitty Galore, uma gata da raça Sphynx, também conhecida como Esfinge ou ainda: "aquele gato sem pelos de carinha nada simpática". Kitty, na melhor de suas intenções como uma boa vilã, quer conquistar o mundo.
Para isso, armou uma estratégia mirabolante que inclui uma estranha expertise em softwares de ponta e o monitoramento de um satélite que irá emitir sons perturbadores aos cachorros de todo o planeta. O plano infalível no melhor estilo Cebolinha irá dar de cara com um inesperado evento: a união de forças entre cães e gatos para que Kitty Galore não ria por último.
Entram em cena então o mocinho e a mocinha da história. Ele é um pastor alemão que condensa todos os clichês que podemos esperar em um cão: bobão, atrapalhado e fiel ao seu dono. Ela é uma gata Russian Blue que carrega em suas patas tudo que se espera de um gato: agilidade, sabedoria e um charmoso tédio diante das coisas.
Diggs, o cão, acaba de ser "expulso" da polícia de São Francisco porque, mais uma vez, não conteve sua vontade em salvar o dia e terminou descobrindo que não é nenhum Denzel Washington. Abandonado no canil, ele termina então sendo convocado para se unir a outros cães no trabalho de acabar com os planos de Kitty Galore. Enquanto isso, Catherine, a gata, é convocada pela M.I.A.U., a agência secreta felina, para trabalhar ao lado de Diggs nessa missão inglória.
Para completar o time, entra em cena ainda aquele elemento bobo da corte, personagem engraçadinho usado para quebrar os momentos dramáticos em 10 de cada 10 animações infantis. Neste caso, ele é interpretado por um pombo sem noção do perigo.
As várias referências a franquias como a dos filmes 007 e Missão Impossível estão em todo lugar e cumprirão com sua tarefa de entreter pais e tios (ou apenas adultos que não se levam a sério) com piadas espertas. Aliás, caso você consiga assistir ao filme legendado, saiba que um ex-James Bond dubla a voz do gato-chefe da M.I.A.U. Estamos falando de Roger Moore "interpretando" o gato Tab Lazenby.
Do outro lado, as crianças devem dar boas risadas com os efeitos em CG que emprestam expressão facial aos bichos. Com exceção de um ou outro animal, o software funciona bem, obrigado.
E a quem interessar possa: este é mais um lançamento em 3D cujo elemento tridimensional passa longe de nossa percepção. Fica a sensação que usamos aqueles óculos pesados unicamente para ver o logo do estúdio de cinema chegando aos nossos olhos na vinheta de abertura. Portanto, se quiser economizar o dinheiro para o combo, melhor optar mesmo por aquela boa, velha (e às vezes mofada) sala bidimensional.
Assista ao trailer de Como Cães e Gatos 2: A Vingança de Kitty Galore.
