No que depender da força política que exerce no PMDB, o presidente do Senado, José Sarney (AP), afirmou que fará de tudo para que o partido consolide a aliança com o PT para a eleição da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, numa eventual candidatura à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010. "Se depender de mim, (Dilma terá o apoio do partido) e eu estou pagando um pouco por isso, justamente porque eu defendo que a melhor solução para o PMDB é acompanhar o acordo que tem com o presidente Lula e acompanhá-lo na sucessão para dar prosseguimento ao que ele está fazendo", disse.
O peemedebista afirmou, em entrevista que vai ao ar às 22h na TV Brasil, que sua aliança com Lula não interfere na forma como conduz o Senado. Sarney acrescentou que parte da crise enfrentada no comando da Casa deve-se justamente ao apoio à continuidade das políticas implementadas nos oito anos de governo petista.
Sarney foi objetivo nas avaliações sobre a classe política atual. "Confesso que sinto que estamos diminuindo muito de qualidade", disse. Para ele, a queda da qualidade dos políticos, também constatada pelo senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) quando estava no comando da Casa, não pode ser ater ao número de suplentes que hoje ocupam boa parte das 81 cadeiras no Senado.
O pano de fundo, na sua avaliação, é a falta de vontade que existe no Congresso de realizar a reforma política, assunto que sempre vem à tona nos momentos de crises do Executivo ou do Legislativo para logo ser esquecido.
"Os congressistas não fazem a reforma política porque cada um tem a ideia que conseguiu para ser eleito dentro deste sistema e se mudar ele não consegue ser eleito. Então ele não muda, e o resultado é que continuamos dentro dessa realidade", analisou.
Por conta da indisposição de se atualizar o sistema eleitoral, José Sarney ressaltou que hoje o País se sustenta na pessoa do Presidente da República. "Ele é o ponto de coesão nacional porque as instituições estão em frangalhos, inteiramente dissociáveis", afirmou.
Ele ressaltou que a degradação dos Três Poderes ocorre há tempos. Ele ressalvou, entretanto, que a capacidade de lidar com as crises dos presidentes Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e de Lula foram fundamentais para aguentar as consequências do enfraquecimentos dessas instituições até o momento.
Ulisses era o dono do poder
Alçado à Presidência da República em março de 1985 pela fatalidade da morte de Tancredo Neves, Sarney confessou que o verdadeiro "dono do poder" naquele período era o peemedebista Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara, presidente do PMDB e vice-presidente da República que, para completar, foi presidente da Assembleia Nacional Constituinte instituída em 1987.
Para consolidar-se no comando do governo, Sarney fez do Plano Cruzado o instrumento político necessário que lhe deu as condições para atingir seu objetivo de conquistar a opinião pública e legitimar-se de fato como presidente.
"Na realidade eu fiquei no governo, mas o poder político ficou nas mãos do Ulysses Guimarães. Essa é que é a verdade", recordou José Sarney. "Dependeu da minha parte, eu ajudei talvez o Brasil com meu temperamento para fazer o governo de coalizão. O Ulysses era o dono do poder político."
"Foi o Plano Cruzado que legitimou o presidente Sarney. A partir dali afastei o fantasma da minha deposição, eu passei a exercer o governo por dentro", relatou o senador e hoje peça-chave no seu partido.
Se não era um bom plano econômico, o Cruzado representou uma quebra do Brasil com a cartilha de política ortodoxa sempre imposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) aos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, defendeu o ex-presidente.
O plano, para ele, foi o pioneiro num caminho trilhado por tantos outros chegando ao Real, iniciado no governo Itamar Franco e consolidado nos oito anos de gestão de Fernando Henrique Cardoso.
Neste período de transição, marcado por uma profunda crise econômica e delicada condução política, Sarney relembrou durante o programa ações das quais se orgulha em ter tomado assim que assumiu a Presidência da República. A legalização dos partidos de esquerda, banidos da história republicana, foi uma delas.
Segundo o ex-presidente, o ato garantiu às forças de esquerda o fortalecimento como instituições políticas para conquistar espaços no cenário político brasileiro.
"Se nós mantivéssemos essas forças de esquerda que estavam emergindo na clandestinidade, se nós tivéssemos mantido aquele quadro, elas não teriam a expansão de espaço político para que pudessem exercer seus ideais", disse.