"> A Escola Econômica do PT

 

Economia - 10/12/2002 - 16:22:33

 

A Escola Econômica do PT

 

Gilmar Mendes Lourenço (*) com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Do ponto de vista do pensamento econômico, a ascensão de Lula conduz os discípulos da escola pós-keynesiana inglesa ao poder. Essa linha de interpretação da dinâmica capitalista sublinha as imperfeições do mercado como elemento determinante das instabilidades sistêmicas, cuja correção exige interferência ampla e permanente do Estado. No Brasil, tal corrente possui residência quase fixa na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tendo dividido as glórias e o fracasso do Plano Cruzado, em 1986, com a primeira geração de economistas “inercialistas” da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), precursores da Unidade Real de Valor (URV) - indexador referência que deu origem ao real em 1994 e do malanismo. Mas a subida ao poder do vetor estruturalista da doutrina econômica não vai ser o fim do mundo. Ao contrário, a ampliação da presença do Estado na economia e a adoção de políticas industriais ativas, propostas difundidas pelos cepalinos no período de substituição de importações, foram revistas, atualizadas e, por fim, recomendadas no começo de setembro de 2002, no Seminário Internacional Novos Rumos do Desenvolvimento, comemorativo dos 50 anos do BNDES, por Dani Rodrik e Joseph Stiglitz (ex-economista Chefe do Banco Mundial e prêmio Nobel de Economia). Tais estudiosos, antes grandes adeptos dos dogmas liberais e agora arautos do Dissenso de Cambridge (em homenagem à instituição a que ambos pertencem), avaliam como fracassada a etapa do capitalismo desenhada pelo Consenso de Washington, em novembro de 1989, sustentada por rigorosa disciplina fiscal, reorientação dos dispêndios públicos, liberalização comercial e financeira, privatizações e desregulamentação, e monitorada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A grande distorção do Consenso foi apostar no caráter irreversível da fase de crescimento da economia mundial baseada na expansão do comércio e dos investimentos diretos nos mercados emergentes. Foram justamente a diminuição do comércio mundial, a quase paralisação dos fluxos de capital e as resistências políticas a um ajuste fiscal estrutural que minaram as chances de perenidade da estabilização econômica em países como Brasil, México, Turquia, Argentina e Rússia, fiéis seguidores dos preceitos doutrinários do Fundo. Por reiteradas vezes, o próprio staff mundial do neoliberalismo vem constatando o fracasso das estratégias recessivas no equacionamento dos crônicos problemas dos países emergentes. Aliás, o êxito de algumas nações na correção daqueles desequilíbrios dependeu do emprego de terapias sintonizadas com as suas peculiaridades, caso da Índia, China e Chile que, dentre outras providências, promoveram o estabelecimento de controles mais rigorosos dos fluxos de capitais, o que, por sinal, deveria ter sido adotado no Brasil a partir de janeiro de 1999, depois da transformação do regime cambial. Daí a necessidade de implementação de uma nova agenda de desenvolvimento, amparada em maior participação da sociedade civil nos processos decisórios e em mais experimentação e menos consenso. No caso do Brasil, é inegável a diminuta margem de manobra da orientação econômica no curto prazo, derivada do panorama conjuntural adverso e das amarras recessivas implícitas no acordo assinado com o FMI, para a obtenção da promessa do socorro financeiro para o país fazer frente aos choques especulativos. Mas, urge construir as bases de um projeto de longo prazo para o país. (*) Gilmar Mendes Lourenço é economista, professor da FAE Business School, mestre em Gestão de Negócios pela UFSC

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