A velha e sábia lição de Maquiavel não está sendo seguida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É que Maquiavel, figura sobre a qual pairam ao longo dos séculos os mais disparatados equívocos, ensinava que em política as coisas dolorosas deviam ser feitas rápidas e as deliciosas aos poucos. A estas alturas, o presidente eleito já deveria ter anunciado os nomes dos futuros ocupantes dos ministérios mais importantes e principalmente o do Banco Central.
Quanto mais tempo para a definição das escolhas, mais complicado fica. Multiplicam-se os pretendentes e multiplicam-se os boatos. Os atritos florescem como cogumelos, não só entre os partidos e grupos aliados como também no interior do próprio partido vitorioso. Não é necessário ter experiências políticas para se imaginar a maré montante de pressões que está a sofrer o sr. Luiz Inácio Lula da Silva às vésperas de sua posse. A lua de mel pós-eleitoral já começa a dar sinais das primeiras colisões e dos primeiros arrufos.
O deputado e candidato derrotado ao governo de São Paulo, José Genoíno, não conseguiu ser acolhido em nenhuma posição do futuro governo e foi lhe dado um prêmio de consolação: a presidência do partido. Entre os aliados, os antigos e os novos (e com certeza os futuros, sempre os há no regime fisio-presidencialista) a confusão é ainda maior.
Afinal, com quais PMDBs se deve fazer aliança? Como não é uma tarefa fácil para nenhum estrategista político, nem para aqueles do antigo PSD mineiro, eis que é revelado que o presidente Lula da Silva estaria disposto a dar à legenda dois ministérios: um para os aliados dissidentes que o apoiaram na eleição presidencial (caso de Roberto Requião e Orestes Quércia), e outro para o grupo oficial que apoiou José Serra (Michel Temer e outros). Mais cômico que esta escolha supostamente salomônica é a pretensão do PC do B: quer porque quer - vejam só! - o Ministério da Defesa.
Ainda se fosse o Ministério da Cultura ou dos Esportes, duas áreas que os comunistas dizem adorar. O PDT, o PPS e o PSB também não se consideram compensados com a porção que lhes foi reservada no banquete lulo-petista. Acham pouco pelo grande sacrifício que fizeram nas estradas pedregosas da sucessão.
Tudo isso até pode ser um ardil do novo presidente, e com ele estaria incentivando lutas fratricidas na esperança de que só sobrevivam os mais fortes e seria com os sobreviventes que ele governaria. Pode ser. Mas sempre há o risco de os sobreviventes não mais dispuserem de mínimas energias para continuar uma outra guerra. Hoje, domingo, seria um bom dia para anunciar quem são os acolhidos para o grande banquete.
|