Sonho de uns e desespero de outros, o período de gestação dos gêmeos envolve muitas preocupações, que vão desde o modo como lidar com as crianças aos ajustes do orçamento para os próximos anos. Até se acostumarem com a idéia, o desespero dos pais é normal já que, ávidos e surpresos com a novidade, não sabem nem ao menos por onde começar. Mas o importante é ficar atento à criação e saber detectar as diferenças e características próprias que cada um apresenta, assim como aprender a dividir o tempo e a atenção oferecida a eles.
Atualmente é comum ver um número maior de gêmeos nas maternidades. Isso acontece devido ao alto consumo de hormônios e tratamentos de fertilidade que estão ao alcance dos pais. Com a facilidade do ultra-som, é possível detectar a gravidez múltipla desde o primeiro trimestre e assim, passada a surpresa e o susto inicial, a família tem bastante tempo para poder se reorganizar antes da chegada dos recém-nascidos. Fátima Lopes, mãe de Mariana e Dayana, conta que quando soube só conseguia chorar. “Eu já tinha uma filha e não sabia como iria fazer. Minha mãe me ajudou muito, afinal eu não podia parar de trabalhar. Passei os 9 meses pensando como seria depois que as meninas nascessem”, conta ela.
Conciliar a educação das crianças e a vida profissional não é tarefa fácil e no caso de gêmeos, como diz o velho ditado, o trabalho é dobrado. Quando existem outros filhos também pode haver um período crítico, já que os mais velhos costumam se sentir “invadidos” por um batalhão de bebês, e morrem de medo de perderem o amor e a atenção dos pais, o que acaba sendo minimizado quando estes conseguem dividir igualmente a atenção. O mesmo deve acontecer com os gêmeos. É necessário sempre saber diferenciar uns dos outros, assim como suas preferências e personalidades.
Cerca de 30% dos gêmeos são idênticos (monozigóticos ou univitelinos) e 70% fraternos (dizigó-ticos ou bivitelinos). Os idênticos terão o mesmo sexo, mesma aparência física e mesmo fator sangüíneo. Já os fraternos, compartilham até 50% de informação genética, podem ou não ser do mesmo sexo e ter ou não o mesmo fator sangüíneo. Indepen-dentemente dessas caracteristicas, é essencial lembrar de que eles não são a mesma pessoa e possuem tempe-ramentos completamente diferentes. Para a psicopedagoga Jaciana Guaraná respeitar essas diferenças é fundamental para pais e filhos. “Por mais parecidos que sejam fisica-mente, eles são indivíduos com percepções, vontades e expectativas diferentes”, diz.
É importante dar liberdade e autonomia às crianças. Não se deve ver os gêmeos como uma unidade; vesti-los com roupas iguais, dar os mesmos brinquedos e evitar particu-larizá-los. “Deve-se buscar a singularidade de cada um e as solicitações sempre serão diferentes”, esclarece Jaciana. Mariana e Dayana Lopes, gêmeas univitelinas, com 17 anos, contam que gostam de coisas diferentes. Apesar do grande elo de amizade, confessam que estão se distanciando. “Sempre estudamos juntas, mas temos amigos diferentes e pretendemos seguir carreiras bem distintas”, conta Mariana. Quando questionadas sobre as roupas iguais, a resposta é imediata: “Parecemos um par de jarras. Sempre procuramos sair diferentes. Podemos até comprar peças iguais, mas nunca usamos no mesmo dia!”, garante.
É evidente que os pais terão maiores dificuldades em desempenhar suas funções em doses múltiplas e simultâneas. Mas essa é a prova de que não se pode deixar de lado a preocupação de não tratar os filhos gêmeos da mesma maneira. “É importante saber que evitando este comportamento, estarão estimulando o desenvolvimento da individualidade, reconhecendo os limites e as potencialidades de cada um e facilitando a formação de suas identi-dades”, explica a psicopedagoga. E essa distinção é algo que pode nascer antes mesmo das crianças. Algumas mães afirmam ter percepções enquanto elas ainda estão no útero. “Na minha primeira gravidez, minha barriga apareceu com 6 meses. Quando fiquei grávida das gêmeas, com 2 meses já dava para notar”, conta Fátima. Após a descoberta, algumas já começam um processo de diferenciação, observando que um é mais inquieto ou mais dorminhoco que o outro.
Na hora de escolher a escola também não há motivos para indecisões. Fátima sempre pedia para deixar as filhas em turmas separadas, mas devido ao pequeno número de alunos, não conseguia. “Eu tinha medo de que uma ficasse nas costas da outra. Quando precisaram se separar, por um ano, não paravam de chorar, foi um sufoco”, conta a mãe. Jaciana Guaraná explica que o fato de estarem na mesma turma não influencia em nada. “Se algo estiver errado com os alunos, cabe à orientadora educacional tomar uma decisão.
Não há problemas em deixar as crianças juntas”, acredita.
Durante a gestação de gêmeos, maio-res cuidados devem ser tomados. Existe maior número de prematuros, bebês com baixo peso ao nascer e uma grande tendência de anemia entre as mães. Portanto, fique atenta. É indispensável a cooperação da mãe com um bom pré-natal, boa alimenta-ção e abstinência do uso de drogas, álcool e tabaco.
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