A decisão do União Brasil de exigir a exoneração imediata de todos os seus filiados em cargos comissionados na administração federal representou um ponto de inflexão nas relações do partido com o governo Lula. Em resolução aprovada pela executiva nacional nesta quinta-feira, 18 de setembro, a legenda concedeu prazo de 24 horas para que os filiados deixem funções em ministérios, autarquias, fundações e empresas públicas, sob pena de infidelidade partidária caso descumpram a ordem.
A medida consolidou o distanciamento já ensaiado desde o início do mês, quando União Brasil e Progressistas anunciaram formalmente o desembarque da base de apoio ao governo. A princípio, a orientação de saída restringia-se a detentores de mandato, impactando principalmente ministros que são deputados licenciados, como Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte, do PP). Com a nova resolução, qualquer filiado ocupando cargo de livre nomeação passou a ser afetado pela determinação, ampliando o alcance e o impacto político do gesto.
A direção do partido reforçou que o descumprimento da decisão poderá acarretar processos disciplinares, inclusive expulsão, e optou por antecipar a ruptura formal com a gestão petista. O movimento reflete pressões internas diante do cenário eleitoral de 2026 e demonstra a tentativa de preservação da independência partidária frente à crescente polarização no Congresso. Nos bastidores, dirigentes alegam que a postura do Planalto em busca de maior fidelidade da base e episódios recentes envolvendo o presidente da sigla, Antonio Rueda, contribuíram para radicalizar a estratégia de oposição.
O desembarque de União Brasil ocorre na esteira de outras movimentações de partidos do chamado centrão, que têm ampliado distâncias do governo federal em busca de espaços próprios e autonomia estratégica visando o próximo ciclo eleitoral. A federação União Brasil-Progressistas atualmente detém a maior bancada da Câmara, com 109 deputados, e governa estados-chave, como Goiás, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia, cujos governadores oficializaram apoio à decisão da executiva nacional.
Apesar da pressão para entregar os cargos, ministros ligados ao partido permanecem, ao menos por ora, nos postos, enquanto articulam a transição e avaliam o cenário junto ao presidente Lula. A base governista, por sua vez, minimiza os riscos de desequilíbrio, sob o argumento de que o grupo já não exerceu alinhamento efetivo no Congresso nos últimos meses. O impasse deve impactar especialmente as nomeações regionais e as relações entre o Planalto e lideranças do centrão, reabrindo espaços para negociações com outras legendas e promovendo ajustes nas alianças em Brasília.
Com a resolução, União Brasil acirra a disputa pelo controle das articulações no centro do poder, pressiona adversários e amplia a instabilidade política às vésperas de debates decisivos no Legislativo, influenciando diretamente o ritmo das pautas econômicas, de reforma do Estado e de projetos considerados prioritários pelo governo.
(*) Com informações das fontes: Agência Brasil, G1, Poder360, CNN Brasil, J3News, UOL, site oficial União Brasil e R7.