O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a escolha de Henrique Meirelles, PSDB, ex-presidente mundial do FleetBoston, para assumir a presidência do Banco Central no seu governo. Para poder integrar a futura equipe econômica, o deputado federal mais votado de Goiás nas últimas eleições não só vai renunciar ao mandato parlamentar que ainda nem assumiu como também se desligar do PSDB, partido pelo qual se elegeu.
“Estou reivindicando dos eleitores de Goiás o direito de convocá-lo”, disse Lula, ao fazer, na Granja do Torto, o anúncio mais esperado pelo mercado financeiro na última semana.
Coube a Palocci, como futuro comandante da equipe econômica, explicar o motivo da escolha de Meirelles, informando que foi eminentemente técnica, baseada em experiência profissional. A sua longa atuação como administrador de banco no Brasil e no Exterior “fez dele uma das pessoas mais respeitadas no mercado financeiro nacional e internacional”, disse o futuro ministro. Palocci lembrou que, depois de presidir o BankBoston no Brasil por 12 anos, Meirelles ficou mais seis anos na presidência mundial da instituição, transformada em FleetBoston ainda durante sua gestão.
O futuro ministro da Fazenda acrescentou que Meirelles terá seu “apoio irrestrito” para fazer o que for necessário na condução do Banco Central. Afinando-se ao programa petista de governo, Meirelles, por sua vez, defendeu enfaticamente que a finalidade da política econômica deve ser o crescimento da economia. “O resto são meios de se chegar lá”, afirmou o futuro presidente do BC.
Meirelles abriu seu pronunciamento breve dizendo que está voltando ao seu “habitat natural, que é o mercado financeiro”. Na etapa de perguntas, após a saída de Lula do recinto, Meirelles esquivou-se de responder sobre temas econômicos mais específicos como juros, meta de inflação e superávit fiscal. Disse apenas que o papel do BC é zelar pela estabilidade da moeda, controlando a inflação. Ele explicou que, uma vez indicado, só poderá voltar a falar mais profundamente de política monetária e política cambial perante o Senado, quando for sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos. Além da CAE, o plenário do Senado também precisa aprovar a sua indicação para o Banco Central.
As pessoas que ocuparão o resto da diretoria do BC no futuro governo não serão indicadas junto com Meirelles. Por isso mesmo, Palocci já acertou com o atual presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que os atuais diretores, permanecerão no cargo o tempo que for necessário para que a transição se dê de forma organizada. Em nota oficial emitida no início da noite, Fraga parabenizou Lula “pela feliz escolha” de Antonio Palocci e Henrique Meirelles. Para ele, ambos “são pessoas qualificadas, que trazem o peso de suas experiências bem sucedidas para a área econômica do governo que começa em 1º de janeiro”.
Lula só bateu o martelo no nome de Meirelles na terça-feira, nos Estados Unidos, depois que ficou clara a recusa de Pedro Bodin em assumir o cargo. Palloci telefonou a Meirelles, que aceitou a missão e se juntou logo ao grupo nos EUA. No PT, Meirelles é visto como um desenvolvimentista que se contrapõem à visão monetarista do atual comando do BC.
O político Henrique Meirelles
Nas primeiras conversas que manteve sobre seu futuro em Brasília, Meirelles falava em disputar a Presidência da República. Depois, notando certo exagero no projeto, aceitou disputar uma vaga de senador por Goiás. Em pouco tempo, aprendeu que, assim como no BankBoston, ele precisaria começar do começo, não do fim. Viciado em trabalho, daqueles que dormem apenas cinco horas por noite, Meirelles se dedicou ao novo projeto com o furor costumeiro. Nessa travessia, procurou o PMDB. Na conversa com o deputado Michel Temer, deixou a melhor impressão possível. O deputado comentou com colegas da bancada que poderia atrair para o partido a simpatia do sétimo maior banco americano. As conversas não prosperaram nos termos em que o partido queria, e o banqueiro esteve com o PFL e o PTB. Em busca de orientação, procurou o presidente Fernando Henrique Cardoso, que o aconselhou a se filiar ao PSDB. Eleito o deputado mais votado por Goiás, terá de adiar seus planos políticos enquanto estiver à frente do Banco Central.
|