O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem, durante encontro com o presidente George W. Bush, que os Estados Unidos intercedam junto aos bancos internacionais para que eles voltem a oferecer linhas de crédito ao Brasil. Este foi o principal tema econômico da conversa entre os dois, que podem ter iniciado ontem uma nova fase no relacionamento entre as duas nações.
“Eu disse ao presidente Bush que, embora isto seja um problema do sistema financeiro, acredito que o governo americano pode contribuir para que as linhas de crédito não se fechem ao Brasil”, contou Lula, em entrevista concedida nos jardins da Casa Branca.
Bush prometeu ajudar o país, mas fez questão de dizer que a retomada do crédito dependerá das ações do novo governo. “A resposta (do presidente Bush) foi que a gente quer trabalhar com vocês, mas é muito importante também o que vocês fazem, o que o novo governo diz e faz”, revelou a embaixadora dos EUA em Brasília, Donna Hrinak, que participou do encontro.
Hoje, o coordenador da transição e futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, vai se reunir com banqueiros em Nova York para também conversar sobre a retomada das linhas de crédito, que começaram a minguar no início deste ano. O encontro, que acontecerá na sede do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, está sendo organizado pelo Fed, a pedido do embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa.
“É um encontro que um conjunto de entidades do sistema financeiro tem solicitado. Foram muitos convites que chegaram a nós e o presidente Lula pediu para que eu, através da embaixada e do Federal Reserve, fizesse pelo menos uma atividade amanhã para atender a essas solicitações. Trata-se de um breve diálogo”, afirmou Palocci. “Temos certeza de que os créditos vão voltar, já estão voltando.”
Na audiência com Lula, Bush, conforme antecipou o Valor, disse que seu governo vai apoiar o programa Fome Zero. A iniciativa é um gesto de boa vontade em relação a Lula, com quem Bush pretende manter um relacionamento pessoal, nos moldes daquele que existiu entre os presidentes Bill Clinton e Fernando Henrique Cardoso. “Bush disse que a eleição brasileira chamou a sua atenção. Ele enfatizou que chamou também a sua atenção o programa de combate à fome”, revelou o porta-voz do presidente eleito, André Singer, que também participou da reunião na Casa Branca. “Temos possibilidade de começar com uma assistência técnica. O problema não é só falta de comida, é de distribuição. Temos muito experiência nisso”, observou Donna Hrinak. Além de Hrinak, participaram do encontro na Casa Branca o secretário de Estado, Colin Powell, a chefe do Conselho de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, o representante comercial dos EUA, Robert Zoellick, o subsecretário de Assuntos Internacionais do Tesouro, John Taylor, o assessor especial da presidência para a América Latina, John Maisto, e o porta-voz de Bush, Ari Fleischer. Do lado brasileiro, participaram, além de Palocci e Singer, a prefeita de SP, Marta Suplicy, o senador eleito Aloizio Mercadante e Rubens Barbosa.
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